Banda um homem só toca música de uma nota só

O músico é Gilberto Bastos Júnior, natural de Olinda e radicado em João Pessoa. É um guitarrista que não toca guitarra e um músico que faz a anti-música. Decidiu que não queria aprender os acordes normais no instrumento, não porque não goste de combinar os sons, mas porque queria que a música atingisse o grau máximo de pureza em seu organismo. Por enquanto, experiente nessa façanha de compor sem partitura nem observância das leis da tonalidade, Gilberto experimenta sete músicas, cada uma com uma nota específica, com base recheada de efeitos e batidas minimalistas.

As sete notas musicais estão presentes, uma de cada vez, nas sete faixas do CD. A curto prazo, Gilberto quer mostrar seu trabalho em praças de João Pessoa, levado por um projeto da Prefeitura. Sem renunciar aos seus escritos “malditos”. Escreve breves contos sobre as misérias do dia-a-dia das periferias de João Pessoa, capital de um Estado que chama de “estado de necessidade”. Falta pouco para “estado de sítio”.

Assim, misturando ideias, separando notas musicais e desvencilhando-se do convencional, Gilberto Júnior vai tomando sua cachacinha e rolando no eixo central da estrada que leva ao ruído rude da música experimental e da arte sinuosa que sai da cabeça do artista outside.

Não confundir a banda de um homem só, do Giba Júnior, com o tradicional “homem orquestra”, que pode incorporar quaisquer instrumentos à sua performance, executando violão, maraca, tamborim, gaita de boca de boca etc. A banda de Júnior se firma numa unidade de sentido que só pode ser percebida pelos iniciados. É coisa para poucos. Sob o crivo dessa linguagem musical um pouco fora da realidade, ele musicou um poema de minha autoria. Tudo bem; conscientemente, não entendi muita coisa, mas é como diz o velho Chico Buarque: “se o artista sente a necessidade de explicar sua obra ao público, um dos dois é burro”. Para não passar recibo de jumento, aplaudi a obra minimalista no seu isolamento contextual. O renascimento das invenções artísticas é sempre um parto doloroso.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 21/10/2010
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