VOCÊ UTILIZA O QUE APRENDEU?
Tenho centenas de informações guardadas aqui dentro da cachola e nunca pude repassá-las a ninguém. Passei horas em cima de livros, decorando-as e nunca nesses pares de anos em que sou vivente alguém me perguntou sobre elas.
Por exemplo: nos primeiros anos de escola decorei todos os afluentes do Rio Amazonas (e quem não decorou?), agrupando os da direita e os da esquerda. No entanto, ignorava o nome dos rios de minha cidade.
Decorei os nomes de todos os presidentes, por ordem cronológica e tempo de mandato. Sei que o Marechal Floriano mandou fuzilar uns caras aqui no Sul e foi homenageado com o nome de uma capital e diversos nomes de rua. Mas isso não constava dos livros escolares. Hoje, sei apenas o nome de uns dois ou três governadores.
Estudei que a primeira noticia sobre nossa civilização deu-se na Mesopotâmia, entre os rios Tigre e Eufrates. Sei lá se ainda existem esses rios. Aprendi que o Sócrates foi obrigado a tomar uma tal de cicuta, isso lá é nome de bebida? Ignoro se foi antes ou depois de jogar no Corínthians.
Aprendi a calcular a área do triângulo, do cone e do polígono. O máximo que medi até hoje foram as paredes do banheiro para colocar azulejos.
Decorei trechos da obra de Júlio Cesar, “De Bello Galico” (para que não pensem mal do Júlio, esclareço que o Bello Galico não era nenhuma espécie de Ricardão, sua tradução é “Sobre a Guerra na Gália”). Quem é leitor de Asterix sabe que os gauleses foram os únicos que resistiram à dominação dos romanos, isso porque tinham em sua aldeia uma poção mágica que os transformava em super-homens. Os soldados romanos tremiam ao chegar perto dos gauleses. Isso sim está no gibi.
Sei até hoje recitar um versinho em francês: “Maintenant je vais a l’ecole...”. Adiantaria enviá-lo como homenagem ou prova de afeto a alguma bela dama? Não, acho que ela não ia entender. Talvez agora, no ano da França no Brasil, possa recitá-lo em algum evento oficial.
Aprendi a duras penas classificar uma oração subordinada substantiva subjetiva. E para que serviu saber isso? Será que, para passar pela roleta no dia do Juízo Final, São Pedro irá me cobrar todos esses importantes conhecimentos?
– Meu filho, conjugue o presente do subjuntivo do verbo apropinquar.
Seria a última chance de desaguar tudo que aprendi.