Escritores e Rituais
Cada escritor segue ou não segue um método, uma lógica: seus próprios rituais. E mesmo não seguir é uma fórmula.
Existem aqueles que precisam isolar-se, abster-se, fugir a qualquer contato humano e daí nasce a inspiração. Outros, ao contrário, precisam do contato humano para inspirá-los, mesmo que exijam o silêncio no momento passar para a tinta, ou para a tela, as experiências, necessitam da alavanca proporcionada pelo nosso contato gente a gente.
Temos os que se embalam na música, despem-se dos chinelos, despem-se de tudo mesmo, e do conjunto do lixo mental, entregando-se a um momento pessoal de absoluto nirvana (ooommmm), não pensando em nada; permitindo que brotem os cogumelos das idéias.
E o que dizer daqueles que procuram o cigarro, ou uma dose, ou tantas mais de licor etílico?
Na Segunda Bienal de Goiás (maio de 2009), muitos me perguntaram aflitos:
- Você não bebe? Como é então que escreve?
Devem existir musas sóbrias, assim como há as que se embalam nos miasmas etílicos. Cada um segue o gênio que merece.
Outros se entregam à leitura de poemas ou de textos que os agradam cavando o veio que esconde o tesouro do encanto que visam despertar.
Temos os atletas que precisam exercitar-se, seja caminhando, ou praticando meditação e até a yoga, de onde nascem os textos oxigenados.
E que tal os metódicos, sistêmicos, ritualistas e puritanos, que somente escrevem se for em determinada mesa, em determinada hora, com determinada luz do ambiente, depois de cumprir os mesmos passos de sempre, como ter do lado o café da marca específica, na temperatura exata, com a mesma quantidade de açúcar ou adoçante?
Existem ainda repentistas, que, independentemente de rituais, de códigos, de invocações, simplesmente sentam e escrevem. O tudo de lhes brota do nada, como a semente mais pura nasce da terra e surge imponente para a glória do autor: eterna enquanto dura.
O grupo dos laborais trabalha muito e, digo, oculta os verdadeiros profissionais, os obcecados que comprovam o que disse Clarice Lispector: ¨literatura é carpintaria¨.
Na minha primeira fase como escritor, tinha muitas idéias e pouco texto. Elas explodiam em canteiros na mente perturbando-me até o sono. Anotava-as e publicava rapidamente. Ah, Internet que nos põe a perder! Terrível o impulso que tem o iniciante de atingir logo o topo do Olimpo. E quão distante está este topo. Somente na maturidade da escrita compreendemos o que significa carpintaria: trabalho duro. Escrever, voltar ao texto, escrever de novo e polir, polir, até que brilhe e transcenda a nós mesmos. Nessa fase não nos importa muito a opinião dos outros, talvez a de alguns seletos; desaceleramos e nos preenchemos da escrita pela escrita. Alcança-se o estado de graça e de entrega que somente quem já chegou lá há de compreender. Caso o amigo escreva e fique aflito por publicar e ver os comentários chovendo sobre o texto identificar-se-á na fase inicial. Não desanime, todos passamos por etapas que se desdobram ao infinito.
Seja de onde for que venha a sua inspiração, talvez um pouco de cada uma dessas, ou nenhuma delas: escreva; cumpra a missão de derramar seus sentimentos sejam eles atrelados a lágrimas, sustentados por alegrias, ancorados em desilusões ou ventilados nas esperanças.
Cumpre sempre o escritor seu papel essencial: testemunhar o emaranhado de experiências próprias, alheias ou imaginárias, que se lhe despem no correr desta existência, neste exato momento da vida que, pelo menos por agora, é tudo.
Cada escritor segue ou não segue um método, uma lógica: seus próprios rituais. E mesmo não seguir é uma fórmula.
Existem aqueles que precisam isolar-se, abster-se, fugir a qualquer contato humano e daí nasce a inspiração. Outros, ao contrário, precisam do contato humano para inspirá-los, mesmo que exijam o silêncio no momento passar para a tinta, ou para a tela, as experiências, necessitam da alavanca proporcionada pelo nosso contato gente a gente.
Temos os que se embalam na música, despem-se dos chinelos, despem-se de tudo mesmo, e do conjunto do lixo mental, entregando-se a um momento pessoal de absoluto nirvana (ooommmm), não pensando em nada; permitindo que brotem os cogumelos das idéias.
E o que dizer daqueles que procuram o cigarro, ou uma dose, ou tantas mais de licor etílico?
Na Segunda Bienal de Goiás (maio de 2009), muitos me perguntaram aflitos:
- Você não bebe? Como é então que escreve?
Devem existir musas sóbrias, assim como há as que se embalam nos miasmas etílicos. Cada um segue o gênio que merece.
Outros se entregam à leitura de poemas ou de textos que os agradam cavando o veio que esconde o tesouro do encanto que visam despertar.
Temos os atletas que precisam exercitar-se, seja caminhando, ou praticando meditação e até a yoga, de onde nascem os textos oxigenados.
E que tal os metódicos, sistêmicos, ritualistas e puritanos, que somente escrevem se for em determinada mesa, em determinada hora, com determinada luz do ambiente, depois de cumprir os mesmos passos de sempre, como ter do lado o café da marca específica, na temperatura exata, com a mesma quantidade de açúcar ou adoçante?
Existem ainda repentistas, que, independentemente de rituais, de códigos, de invocações, simplesmente sentam e escrevem. O tudo de lhes brota do nada, como a semente mais pura nasce da terra e surge imponente para a glória do autor: eterna enquanto dura.
O grupo dos laborais trabalha muito e, digo, oculta os verdadeiros profissionais, os obcecados que comprovam o que disse Clarice Lispector: ¨literatura é carpintaria¨.
Na minha primeira fase como escritor, tinha muitas idéias e pouco texto. Elas explodiam em canteiros na mente perturbando-me até o sono. Anotava-as e publicava rapidamente. Ah, Internet que nos põe a perder! Terrível o impulso que tem o iniciante de atingir logo o topo do Olimpo. E quão distante está este topo. Somente na maturidade da escrita compreendemos o que significa carpintaria: trabalho duro. Escrever, voltar ao texto, escrever de novo e polir, polir, até que brilhe e transcenda a nós mesmos. Nessa fase não nos importa muito a opinião dos outros, talvez a de alguns seletos; desaceleramos e nos preenchemos da escrita pela escrita. Alcança-se o estado de graça e de entrega que somente quem já chegou lá há de compreender. Caso o amigo escreva e fique aflito por publicar e ver os comentários chovendo sobre o texto identificar-se-á na fase inicial. Não desanime, todos passamos por etapas que se desdobram ao infinito.
Seja de onde for que venha a sua inspiração, talvez um pouco de cada uma dessas, ou nenhuma delas: escreva; cumpra a missão de derramar seus sentimentos sejam eles atrelados a lágrimas, sustentados por alegrias, ancorados em desilusões ou ventilados nas esperanças.
Cumpre sempre o escritor seu papel essencial: testemunhar o emaranhado de experiências próprias, alheias ou imaginárias, que se lhe despem no correr desta existência, neste exato momento da vida que, pelo menos por agora, é tudo.