Nem sei como explicar o sucedido, senhor inspector, eu apenas seguindo o conselho de minha mãe tentei espevitar o entusiasmo do meu marido elaborando uma receita francesa muito chique, “coq au vin”, conhece?
Pois demorou catorze horas a preparar, que aquilo implica duas marinadas, uma delas com vinho que tem de ser de boa colheita. Não me poupei a gastos e segui à risca as instruções que agora até há receitas que explicam tudo passo a passo. Só não consegui o toucinho e usei bacon. Terá sido disso? Não sei. Só sei que estava tudo a correr muito bem.A elogiar as amêndoas, as uvas, a rúcula, até a rúcula, valha-me Deus, que nem sabia o que isso era e ele também não mas adorou. O saborzinho a alecrim, as batatinhas assadas, a carninha a desfazer-se, o tempero do tinto de marca, enfim, o homem estava consolado a comer. Foi então que me perguntou porque o mimava eu com tão delicioso manjar. Eu tinha deixado cair o garfo e ao baixar-me para o apanhar nem ouvi bem a pergunta e começei a contar-lhe que tinha encontrado a Lisete na praça hoje de manhã. Não é que ele se engasga e começa a ficar vermelho e eu sem saber o que fazer, a bater-lhe nas costas e ele a ficar azul e eu sem saber se haveria de bater mais ou chamar o 112... Depois quando chegaram os socorristas já era tarde. Tentaram reanimá-lo e nada feito. Descobriram-lhe um dente de alho na garganta. Deve-me ter escapado, na receita dizia: picar bem os alhos. E eu segui tudo à risca mas distraí-me. Estava tudo a correr tão bem...
AnaMarques
Enviado por AnaMarques em 20/10/2010
Reeditado em 30/01/2011
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