QUANDO "ELA" É BEM - VINDA (BVIW)
“... Imagino que “ela” entrará por àquela janela, junto com um raio de sol, e me transformará num beija-flor, então voaremos juntos para um lugar misterioso, talvez só imaginado no mundo dos sonhos...” Esta foi à resposta que recebi de um senhor de noventa anos, que fazia tratamento em um hospital de Curitiba, em que eu fazia estágio de Enfermagem.
Na época, então com vinte anos fiquei surpresa e emocionada com suas palavras, pois “ela”, a quem ele se referia, com tanta tranquilidade e poesia, era a morte. O paciente, embora debilitado fisicamente, mantinha-se lúcido.
Em conversas anteriores contou-me que era escritor e que havia publicado muitos livros, mas não era famoso. Também não deixou nenhum “texto” inacabado nas páginas de sua vida... Ainda queria escrever mais alguns, mas sentia que chegara ao fim, e esperava uma visita que mesmo assustadora para muitos, para ele era bem-vinda...
Aquele homem aceitava a morte sem medo, talvez por conseguir ter uma vida feliz, consciente de seus acertos e erros.
Caso a morte tivesse um sabor, provavelmente, para ele seria de mel, de gotas de chuva ou de missão cumprida, colorida por um arco-íris.
No início da outra semana, ao saber que ele falecera, fui ao quarto dele, e por alguns segundos, imaginei um lindo beija-flor voando pela janela ao encontro da liberdade...