Trinta mil acessos
Pela primeira vez em minha vida estarei com trinta mil acessos. Comemorei meu milésimo acesso com algumas garrafas de guaraná. É comemoração tímida de poeta. Alegria sem alarde. Ninguém haverá de noticiar: um homem interiorano do extremo sul do país alcançou em pouco tempo o elevado número de trinta mil acessos numa página da web.
Para interior urbano é indicador significativo. Deve perder apenas para alguém que tenha tirado a roupa ou está se despindo neste exato momento. Escritor é a mesma coisa, só que com menos acesso. O escritor se desnuda com o que pensa, vendo as dezenas de páginas com elogios, além das notáveis discordâncias sem réplicas. Quero agradecer de peito aberto à presença espetacular dos navegadores em meus textos. As palavras nascem, vivem e sofrem dos seus estranhos efeitos.
Tenho orgulho deste momento isolado. Anônimo nesta progressista cidade. Nenhum carro de bombeiro irá me levar até a homenagem. Não haverá aglomerações, bandeiras, fogos. O escritor não impresso possui apenas uma única impressão: A impressão de que ele não zela pela saúde do povo. Como se não zelasse, cronista do nível a que tem direito.
Quando alguém dentro de casa grita: “Pare de escrever para Web”. Está querendo dizer que não ganhamos com isto sequer o pão de cada dia. Só que eles estão enganados. Ninguém sabe, mas estão enganados. Por sorte nenhum escândalo se formou. Nenhum processo, nenhuma agrura que eu tenha informação. Tirando a clarividente deficiência financeira do mecanismo, os trinta mil acessos exercem uma fuga à melancolia. Essência de minha secreta alegria, pois onde há labor, há esperança. Parabéns!
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