DONA FININHA, QUEM DIRIA...
Discussão acalorada na reunião da Câmara de vereadores. Pauta polêmica: mudança do nome da Rua D. Fininha. Um absurdo isso ser nome de rua! Ainda mais que mora lá a autoridade máxima da cidade. Imaginem o ilustre cidadão apresentando comprovante de residência: Rua D. Fininha, nº 7... Ridículo!
Pois é... Projeto superimportante esse. Afinal trata-se de uma questão de constrangimento de autoridade. E alguém aí sabe quem foi D. Fininha? A fundadora da cidade, por acaso? Claro que não. Em que lugar do mundo uma pessoa chamada Fininha pode fundar qualquer coisa? Ah, pode ter sido a parteira. Lá naqueles primórdios quando ainda não existia o belíssimo hospital Santo Amaro de quatro andares, onde agora nascem todos os novos cidadãozinhos daqui, né?
Então! Vamos mudar o nome dessa ruinha, que já passou de hora. Vamos dar a ela um nome bem imponente: Rua Zezão de Freitas. Quê? Zezão de Freitas? É, uai, não gostaram? Fica bonito, forte! Além do quê, todo mundo conheceu o Zezão, grande fazendeirão das redondezas. Inclusive ele até levou muitos dos seus belos bois para exposições agropecuárias em cidades famosas como Uberaba e etc. Perdão, não me lembro o nome de outras no momento. E então?
Zezão, não! Sem chance. Juca Paulinelli, que tal? Rua importante tem de ter nome estrangeiro. E depois Paulinelli tem a ver com um antigo ministro, cês lembram dele? Olha que imponência! Soa bonito, apesar do Juca, né? Mas fazer o quê? O velho pai do Juca era fã do ministro, quis fazer uma homenagem. Ficou bem diferente, não acham? E seria justo já que o Juca foi um pioneiro por aqui fabricando a cachaça da terra...
Deus, que dilema! Trocar a D. Fininha dá muito trabalho. E tá todo mundo meio irritado. A Câmara dividida em duas torcidas distintas: Zezão de Freitas ou Juca Paulinelli? Parece que a querela não vai ser fácil. E é bem capaz de se estender noite afora. O debate se exacerba, os ânimos se alteram, vozes se misturam, o caos se instala. E agora? O presidente tá completamente baratinado...
De repente, uma voz se impõe. O “edil” Nicodemos Severino agarra firmemente o microfone, sobe na tribuna, vai falar. Um silêncio repentino se faz. Vamos ouvir o que tem a dizer o mais sábio colaborador do progresso da cidade, o mais engajado cidadão, o candidato que se elegeu brilhantemente pela maioria da população.
_ Nobres colegas, caríssimos representantes do povo, não vamos nos dispensar em ideias vagamente vagas. Vós estão se perdendo em devagações sem sentido. Temo que caminhemos para uma desavença sem tamanho nessa discurssão que ora se apresenta. A gente temos sempre que manter a crasse e a elegança porque vós sabeis que o povo espera o bom exempro de nós. E essa casa sempre manteu o seu bom costume de primar pelo diágolo. Chega de guerrear entre nós, porque não esqueçais que essa ilustríssima sessão está sendo inradiada pela rádia e nossos eternos concidadãos estão na escuta. Então vós, nobres colegas, havereis de querer ver a imagem da Câmara degrenida?
Craro que não, Deus me livre, né?