Decência não se aprende na escola

Coxeava o ano de 1968...

Assim começa o livro “Compromisso com a verdade – meio século de jornalismo”, de Oduvaldo Batista e Roselis Batista Ralle, sua filha. Na crônica, a filha de Oduvaldo narra as agruras do seu pai como jornalista em São Paulo, na redação dos Diários Associados do fascista Assis Chateaubriand, tendo que conviver com o Departamento de Ordem Política e Social, o famigerado Dops, os “dedos-duros” e as idiossincrasias da ditadura.

Como chefe de redação, Oduvaldo precisava ter muito cuidado com o que seria publicado no jornal para não causar prisões e torturas entre colegas. Oduvaldo sofria mais do que todos porque era simpatizante dos comunistas, decente, altamente humano e criterioso. Mas precisava trabalhar. E fazia com dignidade, no limite do possível, já que jornalismo como tal não podia ser praticado no Brasil daqueles tempos mais que sombrios.

Atualmente, com profissionais devidamente diplomados nas redações, os jornalistas, para garantir algum jabá ou privilégio, fazem o jogo sujo dos donos das empresas, concordam em usar a coleira e alugar suas mentes para interesses políticos e comerciais altamente suspeitos. Tem jornalista que recebe por fora e por dentro, segundo comentou amigo meu que trabalha em um desses jornais da Paraíba. Os que ainda têm caráter tentam fazer um meio termo retraído, para salvar alguma aparência. A maioria mente, faz alarde de pesquisa fajuta, espalha boatos de má fé, criminaliza e sataniza a figura do oponente, enfim, segue as regras medíocres da politicalha. Poucos, pelo menos uns que conheço, ainda tentam levantar o debate do que realmente interessa ao povo, que são as propostas de gestão governamental.

Faltando apenas duas semanas para a eleição do segundo turno, ninguém sabe o que querem Maranhão e Ricardo para a Paraíba. Um pouco porque os próprios políticos não têm interesse nessa discussão, achando melhor basear suas campanhas em denúncias contra o adversário. Por falta desses esclarecimentos, estão aí os vultosos números da abstenção e do voto nulo. E no jornalismo, a boçalidade toma conta. Não existem debates sérios.

Guilherme Sobota é estudante do 3º período de Comunicação na Universidade Federal do Paraná. Escreveu no seu blog: “A Folha atingiu todos os limites éticos e morais da profissão. Jogou no lixo sua história de pluralidade (como há tempos vinha fazendo). Assassinou, de dentro para fora, o jornalismo brasileiro. Tudo isso em nome do quê? Ódio? Vontade de controlar o país? O quê?”. No nosso caso, os jornais locais têm interesses conhecidos, objetivos claros. Não somos melhores nem piores do que ninguém, pelo menos isso temos o dever de constatar. A imprensa praticada no Brasil é tão ordinária quanto a política.

Com essa pauta e esse desempenho, o jornalismo paraibano poderá ser lembrado daqui a 40 anos em crônica que começaria assim: “Coxeava o ano de 2010...”

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 19/10/2010
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