Depressão na Pista

Noutro dia estava dirigindo quando vi uma placa com os dizeres - "Depressão na Pista". Enternecido com o estado de espírito daquela simpática pista, resolvi saltar do carro e conservar com ela. Eis o seu relato:

"Eu era uma pista normal, com curvas, bom piso que não ocultava os rotineiros buracos, sem muita oscilação, enfim, nada fora do ordinário. Entretanto, de um belo dia para o outro, sem aparente razão, os problemas se abateram sobre mim como uma avalanche. Tudo começou a ficar cinza, o mundo parecia pincelado com apenas uma cor, desolada, minhas curvas pareciam estranhamente sinuosas e perigosas e os caminhões que passavam sobre mim pareciam ostentar um peso insuportável. O prazer que sentia com o infinito deslizar das rodas desapareceu. O zum-zum-zum constante dos motores, antes tão querido ao meu coração, tornou-se um grito estridente. Queria naquele momento que minhas curvas começassem a desviar em rumo ao mar e que lá me afogasse. Que transferissem o trânsito para uma rua paralela para que eu pudesse ficar só, para morrer sozinha. Hoje, após muito tempo de intensa pista psicoterapia e medicamentos antirodoviários, estou um pouco melhor, mas receio que nunca voltarei a ser a mesma."

Então, lembre-se, amigo ou amiga - a próxima vez que ver a placa “Depressão na Pista”, tenha compreensão e compaixão por aquele belo pedaço de asfalto. Se puder, saia do carro e encoste o rosto no pavimento dela, faça um carinho nela. Pode não parecer, mas ela se importa com você.

Gabriel Santorini
Enviado por Gabriel Santorini em 19/10/2010
Código do texto: T2564980
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