CRÔNICA #034 - NESTON COM COCA-COLA

Sempre gostei de inventar coisas. Uma delas é a de misturar sabores. Tomar um alimento de sabor agradável e misturar com outros também agradáveis na busca de descobrir uma mistura ainda mais saborosa. Sei que muitos já fizeram isso e a prova disto são as diversas culinárias vindas das mais diversas etnias. Sou muitíssimo grato aos gourmets por este inumerável legado que temos hoje em dia.

Pois, é. Tenho um pouco de gourmet dessas experiências gustativas. Sou sorveteiro de primeira. E, certa vez, tive que tomar mastruz com leite. Era gostosinho, mas no final, dava sempre aquele enjoo desagradável com gosto de remédio. Tive a brilhante ideia de fazer a seguinte experiência: 6 folhas grandes saudáveis de mastruz; 1 copo de leite integral e açúcar a gosto (eu coloquei meia xícara de chá). Bati e fui logo experimentar. Uau! Delicioso! Parecia que eu tinha inventado um novo tipo de iogurte.

Evoluí a ideia pensando em sorvete. Como seria um sorvete de mastruz com leite? Usaria a fórmula recém-descoberta, com uns pequenos ajustes. Teria que fazê-la na versão normal e 'light'. Ajuste daqui, ajuste dali, pronto! O novo sabor estava no ponto para ser vendido. Agora tinha um porém. Como o chamaria, pois se 'mastruz com leite' iriam logo associá-lo a remédio ou àquela banda de forró eletrônico. E aí, adeus projeto!

Tive a brilhante ideia de batizá-lo em inglês – 'Cress and Milk Plus'. Ao pé da letra – Mastruz com Leite e algo mais. Esse algo mais, já sabem – o limão. O povo gosta de coisas sofisticadas e aquilo soava 'chic' e era o que para muito deles importava. Pronto! O produto foi lançado e foi um sucesso total. A versão 'light', sem adição de açúcar, era a que mais saía. Eu sempre fabriquei os meus sorvetes light, apesar do alto custo deles, pelo mesmo preço dos normais. Gostaria que todos os fabricantes de produtos 'light' e 'diet' fossem diabéticos e/ou tivessem algum ente querido assim, para que a ganância deles caísse por terra. Seria totalmente viável se aumentassem 2 centavos em cada produto normal para cobrirem o desbalanço dos produtos 'light' e 'diet'. Como a proporção dos consumidores dos produtos normais é estupidamente maior isso não pesaria para nenhum dos lados. E os industriais ainda sairiam lucrando, pois, certamente, os que precisam de uma alimentação com esse cuidado passariam a consumir mais.

Agora, depois dos meus 59, vejo-me obrigado a passar para a lista dos consumidores 'light' e 'diet' se quiser ter um crepúsculo mais saudável. E voltei a fazer experiências de misturas gastronômicas. Eu, particularmente, gosto, mas os mais próximos a mim, criticam sem ao menos provarem. Então, acho delicioso, “pão com manteiga + fatias de banana nanica”; “vitamina de banana + café com leite + farófia pronta Zaeli” e hoje provei a mistura “vitamina de banana + café com leite + Neston + azeitonas descaroçadas”. Tudo isso, para o meu paladar, ficou de primeira.

Mas teve uma, que em 1973 eu fiz que me dá nojo só de lembrar, mas para vocês, me sacrifico e conto em detalhes. Gostava muito de Neston; também gostava muito de Coca-Cola. Daí tive a péssima ideia de misturar no liquidificador essas duas gostosuras: Depois de batido, babava de ansiedade para provar. Então comecei a sorver a vitamina, mas não deu. Era um troço por demais desagradável que tive que derramar ralo abaixo. Naquele mesmo instante, prometi a mim mesmo, nunca mais fazer vitamina de Neston com Coca-Cola.

Alelos Esmeraldinus
Enviado por Alelos Esmeraldinus em 19/10/2010
Reeditado em 24/02/2011
Código do texto: T2564937
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