Imprensa deformada

Com mais de meio século de jornalismo, Oduvaldo Batista foi um lutador pela dignidade desta profissão. No seu livro “Compromisso com a verdade”, que acabei de ler, Oduvaldo faz importantes reflexões a respeito das nossas desigualdades sociais, econômicas e culturais. Sua filha Roselis Batista Ralle assim descreve a ideologia do pai: “Ele ama o Brasil como quem ama as veias da terra, a força criativa do povo, os acordes da música popular, a esperança nos olhos de nossas crianças. Na dimensão de um repórter com mais de meio século de batente contínuo, há a fidelidade às esquerdas, a convicção de que o socialismo nunca foi tão necessário e a constatação de que homogeneizar o planeta, perder a identidade brasileira – ou qualquer outra – em prol de uma implantação de “clonos” na mentalidade das pessoas é perder a vida, é vegetar, é simplesmente deixar de ser”.

Em uma das entrevistas publicadas no livro, Oduvaldo fala sobre o governador José Maranhão e a imprensa oficial. Abro os microfones da Toca para o depoimento de Oduvaldo: “Na minha época tinha “A Imprensa”, um jornal fascista da Igreja Católica, porque naquele tempo a Igreja era bem mais fascista do que hoje. Então o jornal “A União”, além de ser muito lido, era um jornal progressista, temporal, que acolhia artigos de comunistas, socialistas, materialistas e havia uma polêmica entre A União e A Imprensa, este último defendendo o medievalismo, o obscurantismo, e A União defendendo os valores nacionais, o progresso. Com o golpe de 30 foram surgindo outros jornais como O Norte e o Correio da Paraíba, e aí começou o boicote comercial contra A União, e os governos são coniventes com isso. Por exemplo, o senhor José Maranhão, atual governador da Paraíba, é um latifundiário, um homem riquíssimo. Ele só anda em avião particular, é um mercenário. E ele não tem interesse em que o governo tenha o seu jornal, um veículo realmente do povo, pois a União poderia ser esse jornal. Bastaria que o governo desse assinaturas grátis para todo o professorado da rede estadual e das redes municipais, esses professores que ganham pouco, e os funcionários que têm melhores condições financeiras pagariam 50% do valor da assinatura anual. Assim, só esse universo de leitores, que é imenso, facilitaria a vida do próprio jornal, aumentaria os anúncios e garantiria a sobrevivência, sem depender tanto do dinheiro público. Pois um jornal bem feito, com muitos leitores, defendendo realmente os interesses do povo, atrairia o pequeno e o médio comerciante que faria sua propaganda através de um órgão de imprensa dessa qualidade”.

Oduvaldo Batista faleceu aos 87 anos de idade, em João Pessoa. Assim ele via a chamada imprensa burguesa: “Todos os meios de comunicação burgueses, principalmente a TV, a serviço do imperialismo liderado pelos EUA, deformam a mente do povo. Esta deformação se torna mais fácil para esses bandidos, justamente porque a grande maioria não tem cultura, é ignorante. A mentira, a omissão, são armas da mídia burguesa, dentro do figurino traçado pelo imperialismo sediado em Washington”.

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Fábio Mozart
Enviado por Fábio Mozart em 18/10/2010
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