Trecho do poema de Carlos Rodolfo Stopa, publicado há pouco no Recanto das Letras que nasceu de uma conversa informal a partir de um comentário meu elogiando seu trabalho de escritor.  Daí em diante, surgiu uma muito proveitosa interação e o texto que ora publico é basicamente o texto da carta que lhe enviei.

http://www.recantodasletras.com.br/poesias/2557878





   O  QUE  CAI  NA  "REDE"  É  O  QUÊ?



           Houve um poeta que me dizia que eu devia escrever o que as pessoas queriam ler, que eu escrevia para mim. E dizia que as pessoas, em geral não liam,  porque a tal literatura "oficial" era inacessível à maioria por motivos que não preciso apontar. E outro poeta me deixou surpresa ao falar que nunca gostaria de ter seu  nome e foto em jornal. Disse que desejava sim que seus livros fossem vistos e lidos. Uma postura de quem entendeu de forma louvável que não se escreve para ser sucesso, mas para em primeiríssimo lugar, cumprir uma vontade irresistível de nos reproduzir em palavras que fatalmente sobreviverão ao nosso corpo falível. E o indiano Osho, em suas palavras de sabedoria, já o disse também. Ele falava que o verdadeiro poeta é somente um instrumento do divino expressar e que em muitas pessoas que aparentemente escrevem muito bem,  o texto é resultado apenas de um intelecto frio e estéril.  Temos aí  uma visão espiritualizada do fazer literário.

        Quando entrei para o Recanto eu ainda vinha com aquela marca que trazemos de tempos menos democráticos, e você tão bem desenhou os atuais, com "janelas" aonde todos podem ser vistos na Rede.

          Eu sempre aprendera a ver os grandes escritores como seres à parte, de uma humanidade diferenciada e na verdade eles integravam uma elite não só no sentido intelectual, e o "Zé Povinho" aqui, embasbacado, via esses nomes como estrelas distantes no seu mundo à parte. Custei muito, mas com o tempo fui entendendo melhor o novo espaço em que me achava inserida, a internet permitiu a mim este crescimento que posso te dizer foi mesmo algo transformador.  

          Quanto a sermos escritores
, acho que esta classificação hoje está banalizada e até perdeu o seu singnificado mais restrito. Nesta esteira da superficialidade, todo mundo é ator na TV, todo mundo é poeta, pintor, artista, basta que isso seja badalado na chamada mídia e agora na internet, e o dito consiga um punhado de admiradores, e numa linguagem mais apropriada aos novos tempos, que arranje um bando de seguidores. E como você falou com propriedade, as academias estão ainda em outro momento, isoladas em seu mundo um tanto obsoleto, e agora com presenças literárias cujo valor, num mundo de superficialidades e visão mercantilista da arte,  está mais no lucro e nos números das vendas, do que no talento verdadeiro.

           Muito à parte dessa realidade, aqui em casa, temos, há alguns anos, uma espécie de poeta-guru que se chama Hildo Rangel, gaúcho de Porto Alegre, cujo único livro de poemas foi publicado por um amigo dele anos depois da sua morte, apesar de ele ter expresso em uma carta o seu desejo de não ser nunca ser editado.  Eu acho fantástico o fato de uma pessoa como ele, um grande artista, ter que ser "descoberta" quando tantos pretensos escritores "pagam mico", fazendo de tudo pra empurrar seus livrinhos goela abaixo de um público cavado muitas vezes, à custa de estratégias as mais desagradáveis e inoportunas.

          Mas eu agora resolvi, finalmente, publicar. Não vou esperar morrer para um amigo fazer isso por mim. E não vai aí nenhuma vaidade ou qualquer ambição mesquinha. Somente desejo que um dia, de forma inusitada, alguns dos meus exemplares que sem dúvida sobreviverão após a minha morte, possam ser, como os do Hildo, quem sabe, disputados nos sebos como raridade.  Guardados como relíquias sentimentais, amados por alguma jovem adolescente que ainda nem nasceu. Ou ainda, ser companheiros da insônia de uma mulher como eu que por certo haverá ainda dessa espécie de figuras daqui a algum tempo. Simples assim.

         Sobre releituras... acho que através delas descobrimos que sobreviem as velhas visões nos momentos novos, como matéria ainda viva dessa lava subjacente cujo calor nos toma em inesperada hora e revive emoções aparentemente extintas. Somos novos leitores a cada retomada de um texto, pois como os rios somos sempre os mesmos mas nossas águas nunca se reptem.  E tudo passa, "como passam a mão e o rio que lavaram teus cabelos."


                   
tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 18/10/2010
Reeditado em 18/10/2010
Código do texto: T2564325
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