O PUM DO REI

O rei de um reino fictício ficou doente. Como era um homem vil, o inferno já foi preparando o lugar para alojar a sua alma. Então veio um diabo, não o chefe, e sem pedir licença pendurou no fiofó do rei um saco, pois, segundo a lei de satã, a alma desse tipo de gente sai por ali. O rei comia muito bem à custa do pobre povo que se esfalfava de trabalhar para sustentar a corja real. Naquele dia ele estava empanzinado, almoçou seu prato favorito: repolho (a cegueira), cebola (a surdez) e ovos cozidos (a ignorância) regado com o vinho do cinismo. A sua pança estava enorme.

O diabo esperava o último suspiro na primeira hora, nada.

O tinhoso estava impaciente e como o rei não morria nem fedia, ele se pôs a sambar sobre a sua barriga. O rei gemia, prometia, jurava, mas o demo não parava de pular. Então o rei levantou uma das pernas e soltou um pum tão grande que jogou pra bem longe o saco, todo melado, onde sua alma seria acondicionada. O capetinha ficou injuriado. Entrou em contato com o chefe para saber o que deveria fazer diante daquela situação esdrúxula. Recebeu o seguinte recado:

“Deixe que ele fique para a segunda hora. Devido ao rombo no cofre do inferno, não podemos contratar faxineiros. Já chega o cheiro de enxofre e se misturar com o de bosta não há diabo que agüente.”

04/10/06.

(inspirada na fábula medieval “O Peido do Vilão”)