VESTIBULAR II



Vestibular II
 
Pássaros alegremente cantam, dando alguma graça a uma grande quadra poliesportiva. Pessoas conversam, fofocam, discutem... Ouço claramente algumas pessoas discutindo que o ensino público é ruim, e que o ENEM é um engodo. Pessoalmente discordo, pelo menos em parte. É um assunto bastante complexo. Existem escolas públicas de excelência, e escolas particulares de baixíssimo rendimento e duvidosa qualidade. No fundo esta discussão, neste ambiente, é etérea.
 
Depende de cada escola, depende de cada professor, depende de cada aluno, depende das famílias de cada aluno, depende da bagagem e maturidade que cada aluno carrega consigo, depende da motivação e da curiosidade de cada aluno, depende do estímulo extra classe que cada aluno recebe, depende dos exemplos que cada aluno vivência, depende dos valores de cada micro sociedade em que estes alunos convivem, depende enfim de uma infinita gama de variáveis, inclusive da inteligência média de cada aluno, da alimentação que recebem, dos cuidados médicos e do amor que os envolve.
 
Este é um assunto muito complexo, e com certeza multidisciplinar. É de uma maldade absoluta culpar somente os professores, a direção das escolas, ou sua metodologia própria. É óbvio que metodologias diferentes terão efeitos diferentes sobre diferentes públicos alvo.
 
Mas uma coisa é certa, existem escolas públicas de excelente nível, porem nenhuma escola faz milagre por si só. Os pais, a família e a sociedade, são corresponsáveis, tanto quanto o estado, pela boa educação.
 
Todo professor de escola pública, pelo menos até onde eu sei, é concursado. Para professores de escolas particulares, às vezes, nem prova de capacidade é exigida.
 
Eu jamais deleguei as escolas, desde a pré escola, até o término do segundo grau, a responsabilidade sobre a educação de meus dois filhos. Eu sempre cobrei das escolas sociabilização e instrução, e sempre me reservei a total responsabilidade sobre a educação global de meus filhos.
 
Mas porque esta discussão toda? Acompanhei esta discussão, entre pais, porque estava, mais uma vez, e estarei quantas forem necessário, acompanhando minha filha em seu vestibular: UERJ, UFRJ, UFF, UNIRIO, ENEM, PUC, FGV, IBMEC, primeira fase, segunda fase, quantas forem necessário.
 
PUC, FGV e IBMEC: vestibulares buscando bolsas de estudo e por servirem de experiência para os vestibulares que realmente nos interessam; UERJ, UFRJ, UFF e UNIRIO, nesta ordem.
 
Não sou hipócrita, qual pai ou qual jovem não gostaria de cursar uma PUC, Uma FGV ou uma IBMEC, mas infelizmente não existe a menor possibilidade de sustentar tais universidades, sem uma bolsa integral.
 
Minha filha luta por uma vaga em direito, preferencialmente na UERJ.
 
Tendo estudado sempre em escola pública, aos moldes do irmão que hoje faz Engenharia na UERJ, se esforça pela tão sonhada vaga.
 
Eu, aqui sentado, torcendo, aguardando pacientemente ela fazer a prova de hoje. Quatro horas, cinco horas, se necessário passo o dia todo. Não sou empresa aérea, mas trouxe comigo quatro barrinhas de cereais, e não é necessário pressa.
 
No fundo acho uma maldade, no último ano do segundo grau, que deveria ser um ano de regozijo frente a estarem completando mais uma fase em suas vidas, estarem sofrendo tal carga de stress, na luta por uma vaga em uma ótima faculdade.
 
Fora da quadra, o sol meio enevoado, esquenta o dia. Não tem problema, se esquentar demais retiro a camisa. Se chover danço na chuva, se necessário for.
 
Pode parecer egoísmo, mas são meus filhos, o que de mais importante existe para mim.
 
Pode parecer vaidade, mas eles são especiais, muito especiais. Devo muito disto, também, a minha esposa, a mãe deles. Tanto geneticamente quanto “fenotipicamente”, ela é em muito, responsável pelo que eles são hoje.
 
A mudança é inexorável, o tempo presente em sua eternidade leva a que todos mudemos e assim meus filhos também mudam. Mas no atual momento presente meus filhos são muito de um mix entre virtudes e defeitos meus e de minha esposa.
 
Segunda prova para a PUC. Como o irmão, mais um treinamento, para o objetivo final que é a UERJ.
 
Bolsa integral, praticamente impossível. Entretanto a vida é prolixa em nos mostrar que o impossível pode ser alcançado. Se vier a bolsa integral, minha amada filhota vai ter uma grande escolha entre a PUC e a UERJ.
 
Mas o presente é o que conta, e agora, neste instante ela esta ilhada em alguma sala se empenhando em uma prova. Ela sabe que não precisa sequer passar, pois a amo e tenho a certeza que ela fez a parte dela estudando o ano todo, todos os últimos sete anos, e isto sim era a parte dela. Passar ou não passar é o de menos, e só quando o futuro for presente saberemos disso.
 
Menina nova, um mix de ingenuidade e experiencia de vida, carência e decisão, força e fragilidade, Ela tem me mostrado, como meu filho também me mostrou, ser uma lutadora.
 
Vaidosa, sim... É menina.
Festeira, sim... É jovem.
Porem estudiosa e comprometida.
Cursando o colégio militar, por concurso, chegou a se graduar. Faz cavalaria. Em ambas as provas da PUC veio de camisa da cavalaria por amar os animais, em especial gatos e cavalos.
 
Minha filha você não precisa nem terminar a prova, você já é uma vencedora, a minha heroína...
TE AMO MUITO.

Arlindo Tavares
Enviado por Arlindo Tavares em 18/10/2010
Reeditado em 18/10/2010
Código do texto: T2562842
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