ASAS DA IMAGINAÇÃO
Gosto de ESCREVER todo domingo. Há quem goste da praia, do cinema, do teatro, de ouvir música. Tudo é muito bom e cabe num domingo, mas o que eu gosto mesmo de fazer é escrever. Na escrita me encontro como se fosse outra pessoa. Então, EU e EU nos debulhamos jogando prosa pra todos os lados.
Hoje, particularmente, diante de outros afazeres, pensei que não fosse alcançar esta obrigação tão prazerosa que é mergulhar no mundo das letras, compor frases e transformá-las dentro de um contexto de comunicação. Escrever no RECANTO é mais um motivo que preenche este domingo, posto que, do alto da minha simplicidade redacional, tenho adquirido fiéis leitores. Também infiéis. Outro dia, ao responder respeitosamente a um comentário feito no rodapé de um dos meus textos, cometi um erro de digitação. Ao invés de me referir a pessoa no masculino, troquei o "O" pelo "A". O senhor em questão, logo me devolveu a resposta alegando ser "HOMEM" e que eu deveria prestar mais atenção a isto, etc., etc. Trepliquei a resposta, enfatizando que ele procurasse um psicanalista e, então, ele ficou uma fera. Até fez ameaças, dizendo que se ele não "morasse tão longe eu iria ver". Insatisfeito, ainda andou patrulhando meus textos e me denunciou à administração do Recanto acerca de um texto que deveria estar em "textos eróticos" e não estava. O Recanto, acertadamente, mandou que retirasse. Mas o pior: ele me mandou outro e-mail dizendo que tinha me denunciado, conforme relatei anteriormente. Dei um basta. Deletei ele dos meus contatos e agora ele figura como lixo. Lixo eletrônico, mas LIXO. Desse episódio, fico imaginando: como pode uma pessoa ficar tão violenta porque outra, por erro de digitação, trocou o sexo dele em um comentário escrito? Como sou Freudiano, imagino que para alguém se incomodar com esse tipo de coisa, seu interior deve estar muito bagunçado afetivamente. Ninguém vira mulher porque o outro lhe trata como tal. Basta que se tenha a garantia do que se é e do que se quer na vida e dela própria. Ao mandá-lo procurar um psicanalista percebi que muito mais ele se desarrumou por dentro. Talvez o machismo nele seja exacerbado a esse ponto, mas seria muito pouco para tanto. Prefiro, pois, entender que se trate de fraqueza interior associada à pobreza de espírito que não o permite tirar por menos tudo que parece ser demais.
Deste modo, irrompo a letargia deste domingo meio minguado em que a chuva vem e vai embora. Meu ato de escrever, não. Ele nunca me deixa e, como agora, ajuda-me a aliviar o que poderia ser chamado de aborrecimento virtual. Este exemplo citado pode muito bem representar a violência que vivemos; um mundo tão intolerante em pleno terceiro milênio - a tão propalada era do conhecimento. Pena que muitos não utilizem seus conhecimentos para ser feliz. Provavelmente esse senhor que me tentou "desqualificar" seja sozinho. Além disto, talvez seja feio por dentro e por fora. Além disto, abandonado por algum suposto amor... A solidão do amor, do afeto, do gesto doce, do olhar lânguido, deve ser dobrada. Não como os lençóis que dobramos após acordar em nossa cama. Dobrado em amargura; o dobro das mazelas que a solidão naturalmente não provoca.
Diante das notícias políticas que não nos abandonam neste período eleitoral, preferi, hoje, dar um tempo. Mas não de todo, porque a ação política não é só partidária. Ela se refaz no nosso cotidiano toda vez que não negociamos nossa cidadania, nem nos calamos diante das maldades humanas e das suas injustiças. Ser feliz pra mim é esta possibilidade que o dinheiro não pode proporcionar. Por isto, neste fim de noite domingueiro, termino sendo traído pela questão política da vida. Não dos partidos, pois estes são PAR-TI-DOS. Eu não me parto, nem me aparto dos meus sentidos. Por isto, tenho que me reabilitar em cada gesto e em cada ação tenho que me fortalecer para que o meu Brasil não volte a ser governado pelos oportunistas de plantão.
De tanto usada a faca já não corta
De tanto usado o serrote já não serra...
A mão que afaga não deve ser a mesma que apedreja
A boca que escarra não deve ser a mesma que beija
A mão que toca o violão, sim. Se for preciso vai à luta...
(Adaptação minha para esta ocasião)