Missa no rancho

Era dia de louvor a Nossa Senhora Aparecida. A convite da amiga, dirigi-me ao seu rancho para, juntamente com minha esposa, prestar minhas homenagens e agradecer todas as graças alcançadas.

Acreditava que a missa iniciar-se-ia às 12 horas, motivo este de minha chegada após o início do culto. Ela começara às onze e já eram onze e quinze. O local estava repleto de fiéis que a Ela também foram prestar suas reverências. Como outros, recostei-me á parede e dali mesmo fiquei a participar da Santa Missa.

Na hora da Eucaristia, em vez de os fiéis formarem fila, o padre resolveu que iria distribuir as hóstias enquanto andava por entre os presentes visto que o espaço era exíguo para tantos fiéis e sua movimentação iria causar menos alvoroço.

Para organizar, o padre disse:

— Eu passarei por vocês distribuindo as hóstias. Quem quiser comungar não precisa falar nada. Basta postar as mãos na posição correta que o padre já sabe. Entenderam? Vou repetir. Quem quiser comungar não precisa falar nada. Basta postar as mãos na posição correta que o padre já sabe.

Dito isto, saiu distribuindo a hóstia aos fiéis até chegar ao fim da varanda, lá no fundão. E foi, de fiel a fiel, distribuía e ainda abençoava.

Ao chegar ao “fundão”, o padre olhava, incredulamente, para os... fiéis (?) ali postados. Todos estavam com as mãos cruzadas às costas. Informação clara de que não estavam preparados para a comunhão. Buscava os olhos dos presentes na tentativa de interrogá-los com seus olhos.Afinal de contas, iriam ou não comungar? Para fugir ao olhar inquiridor desviavam o olhar. Na fuga da velada sindicância olhavam o teto, as folhas balouçando, movidas pela brisa do meio-dia, o rio que passava alheiamente à cerimônia, apartado das crenças religiosas, Mas o padre não acreditava no que estava vendo. Por fim, apelou:

— Aqui..., ninguém vai comungar?

Todos se olharam, disfarçadamente, e permaneceram na mesma posição – mãos às costas.

Insistiu:

— AQUI..., NINGUÉM VAI COMUNGAR? Repetiu dando uma ênfase maior às palavras e buscando, quase que desesperadamente, um fiel que não o desapontasse.

E ninguém, ninguém mesmo entendeu as mãos.

Balançou tristemente a cabeça, procurando se confortar e voltou para o altar a fim de terminar a missa.

Durante seu retorno ao altar deve ter se lembrado dos tempos de escola: o “fundão” era lugar destinado aos retardatários, aos pouco estudiosos, pouco compromissados, etc. e que não adiantavam palavras para fazer mudá-los de idéia.

Gilberto Gbleini - 20/10/2005