A gafe do dia
Estava eu dando uma palestra sobre o Curso de Engenharia de Produção numa escola pública do Ensino Médio. Falava com toda empolgação, fazendo a maior propaganda da minha área de pesquisa.
Projetado o slide que abordava “tecnologia”, falei a definição informal: tecnologia são conhecimentos que melhoram a nossa qualidade de vida. E citei vários exemplos do cotidiano daqueles estudantes, que tinham em torno de 16 anos.
Assim, lembrei do mimemógrafo, aquele equipamento super antigo, que nem se vê mais por aí. Era preciso preparar um original chamado “stencil”, uma espécie de papel impermeável que vinha junto com um carbono específico. O stencil era fixado em um cilindro no mimeógrafo, abastecido com álcool doméstico. Introduzia-se então uma folha de sulfite (que naquela época não era tamanho A4, mas uma medida um pouco maior) em um dos lados do aparelho e utilizava-se uma manivela para rodar o cilindro com o stencil, imprimindo assim o papel que saía prontinho e molhado de álcool do outro lado.
Tudo isso passou instantaneamente na minha cabeça naquele momento da palestra: “A evolução tecnológica é muito rápida; como sou do século passado, 'na minha época', não tínhamos data show como este aqui ou xerox, usávamos mimeógrafo, já ouviram falar?”
Ninguém respondeu, mas os alunos continuaram com suas caras de naturalidade, enquanto a professora me olhou muito espantada, parecendo querer me falar alguma coisa. Pensei inicialmente que seria porque ela se sentiu “veterana” com o meu comentário, relembrando um equipamento familiar à sua época também.
Mantendo o tom de humor da apresentação, ainda completei ironicamente: “talvez os alunos só tenham 'ouvido falar' de mimeógrafo ou então tenham visto em algum museu”.
Nesse momento, ela não se conteve e disse baixinho: “Disfarça, mas aqui na escola a gente ainda usa o mimeógrafo...”
Rapidinho e como se nada tivesse acontecido, continuei a palestra: “como eu ia dizendo, existem tecnologias que surgiram há algum tempo e que se mantêm até hoje por sua utilidade e benefício econômico, como por exemplo o mimeógrafo, que proporciona baixo custo de impressão...” E cliquei no próximo slide, que por proteção celestial, já tratava de outro assunto.
Na volta, no carro ainda, comentei dessa minha gafe com o aluno de graduação que me acompanhava: “Olha que gafe! Mas também, como eu iria saber que aquela escola ainda usava mimeógrafo?! Acho que é porque é uma escola bem humilde...”
E o aluno, que fez o Ensino Médio numa escola de ricos, bem conceituada na cidade, me explicou: “Ah, pode ser. Mas na minha escola, eles também usavam...”
Melhor parar por aqui, antes que você que está aí lendo me envie um e-mail dizendo: “ei, não fala mal não, eu também uso o mimeógrafo!”
(Catalão, 15/09/2010)