O Triunfo da Injustiça

Antigamente, cometer crimes, atos ilícitos e até mesmo fumar um cigarro de maconha era sinônimo de vergonha. As pessoas faziam essas coisas somente longe dos olhos alheios. Ser bandido era ser marginal, nada além de estar à margem da sociedade. O delinqüente se escondia, pois tinha medo e vergonha; não havia aprovação moral pelo crime de roubo, assassinato, tráfico, ou mesmo pelo simples uso de drogas.

A sociedade evoluiu e regrediu ao mesmo tempo. Agora, devido a esse paradoxo da história, no Brasil se instaurou uma inversão de valores que deixa tudo meio confuso. Este é o triunfo da injustiça. Chegamos a um ponto onde a bondade é sinônimo de burrice, pois não temos mais condições de sermos bons uns com os outros pelo simples fato de não sermos bons uns com os outros. O delinqüente é inocente, o assassino é a vítima, o psicopata é apenas um louco, e os ladrões têm dinheiro demais para pagar bons advogados. Os direitos humanos foram direcionados para alguma outra coisa, algo que não se pode entender, onde somente o direito de alguns humanos é defendido; e geralmente, não são as vítimas... Repetitivo? Não. É a verdade.

Se antes havia máscaras, se antes os crimes eram cometidos nos becos escuros, isso não foi mais do que uma homenagem do mal à virtude; pelo menos nas intenções. Os crimes eram cometidos, mas ainda se tinha dignidade e vergonha pelas ações. Mas agora, agora não. O Mal predomina como sempre predominou. O mal só estava esperando à espreita, esperto como é para agir nos momentos adequados. E como bem disse Arnaldo Jabor, “a verdade está na cara, mas não se impõe”.

Neste momento, já podemos dizer que sete palmos do chão ainda são poucos. Nossa justiça foi enterrada na cova do bom senso e da virtude, que se encontra muito abaixo do fundo do poço. E o pior é que ninguém foi ao funeral prestar condolências para ela. A justiça morreu sozinha, sem ninguém a guiando pela mão devido aos seus cegos olhos.

Vamos eleger a ditadura através da democracia, e vamos ver mais um monte daquilo que já vimos tanto. A mentira continua, mas agora está bem na nossa frente, rindo de nós enquanto olha em nossos olhos. Uma vez que existiu a idéia de que o bem combatesse o mal, foi esquecido o fato de que não há combate, mas há um massacre. O mal esmaga o bem com alguns tapinhas, como se matasse moscas no verão. E o bem simplesmente vai desaparecendo, porque o bem é fraco e impotente, é passivo e insuficiente.

A injustiça é como o De Lorean, pois além de veloz ela atravessa as barreiras do tempo. A justiça, no entanto, é um fusca 1300 com pneus furados, engatado na marcha ré. A maldade predomina aonde chega e se espalha por onde quer, enquanto a virtude é tão serena que demora a perceber o que já aconteceu; demora, também, para providenciar as soluções. A batalha entre a justiça e o absurdo é desequilibrada, porque o equilíbrio também morreu.

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Roger DAndré
Enviado por Roger DAndré em 16/10/2010
Código do texto: T2560054
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