Prêmio Nobel da Paz 2010

Eu confesso que alimento certo fascínio pelo continente chinês há décadas. Seus palácios imperiais, sua grandeza enquanto continente, seu crescimento econômico gigantesco, a erradicação de quatrocentos milhões de chineses da pobreza, além de outras coisas mais. O pior de tudo é que apenas uma ação do governo chinês deixa para trás todas as outras coisas: a total falta de liberdade do seu povo e a maldita censura a qualquer manifestação política que vise exaltar a Democracia.

Uma ditadura que divide uma geografia onde se podem encontrar os maiores milionários do mundo e as almas mais paupérrimas deste mesmo mundo. Um comunismo que permite que seus cidadãos teçam as maiores diferenças sociais do planeta, onde uma multidão de famintos vive no campo e boas dúzias de milionários nas grandes cidades.

Um chinês diferente acabou de ganhar o Prêmio Nobel da Paz de 2010. Trata-se do professor de literatura, Liu Xiaobo, 55 anos, casado. É que o agraciado encontra-se condenado e preso a onze anos de reclusão, na prisão chinesa de prisão de Jinzhou, além de incomunicável. Apenas recebe mensalmente a visita de sua esposa, de quem deverá receber a notícia comunicando o seu Prêmio Nobel da Paz 2010.

Quem não se lembra daquele episódio acontecido em 2008na Praça da paz Celestial? Dos tanques do exército chinês passando por cima de estudantes que se exaltavam pró-Democracia? Que pediam o fim da ditadura? Xiaobo foi um dos tais que discursou pacificamente pedindo calma aos estudantes,embora que manifestando seu interesse pela mudança do regime ditatorial para a Democracia.

A China, através de sua Chancelaria, ameaça boicotar a Noruega pelo fato desse país ter escolhido um preso político para homenagear com distintivo de tão fidalga honraria. É vergonhoso esse proceder vindo da segunda economia mundial e a que mais cresce no mundo. Um país continente que é capaz de enfrentar problemas enormes de ordem social, mas, incapaz de reconhecer que a liberdade é um bem de todo ser humano.

Xiaobo foi nada menos do que o encabeçador da famosa carta oito, assinada por mais de três centenas de intelectuais chineses, que pedia o fim do uni partidarismo dentre outras coisas mais. Um manifesto de intelectuais chineses pela Democracia. Uma semente plantada com tanto carinho e força que acaba de germinar no mundo todo.Nunca mais Xiaobo será o mesmo!

O Governo do presidente Lula silenciou acerca desse acontecimento, de forma lamentável. O Prêmio Nobel dado àquele chinês, pleno de verdades, seria menos interessante do que o que fez recentemente este mesmo governo com a cidadã iraniana acusada de adultério por seu governo? É mais importante para Lula o Iran? Eu continuo a desentender os meios de como operam este governo. Os interesses políticos se sobrepõem aos humanos? Enquanto a maioria dos países ricos comemorou o feito, nossa democracia calou-se por absoluto medo de pronunciar-se e assim ferir os ditadores asiáticos. Para o Brasil, ferir a China subtrai divisas, enquanto um simples pacifista preso do outro lado do Sol não representa quase nada. Dou os pêsames às autoridades brasileiras que compactuam com esse jeito mórbido de encarar a paz mundial. Um dia a casa cai e o arrependimento assustará a todos e muito pouco poderá ser reparado.