Neurótica, eu?

Nos primeiros meses de vida dos meus filhos, eu ficava o máximo de tempo possível olhando para aquele serzinho minúsculo, atenta a cada detalhe, a cada mínima expressão.

Não escondia de ninguém a certeza de que a sobrevivência dele dependia única e exclusivamente de mim, afinal, somente eu, a mãe, conseguiria atender as necessidades do bebê, trocar a fralda, dar banho e embalar do jeitinho que ele gostava. E disso eu tinha plena convicção.

Isso é cuidado, zelo, certo?

Visitas de pessoas que sempre tinham palpite e receitas de chazinhos e remedinhos para filho alheio não faltava. Assim, todos que tentavam de alguma forma interferir ou minimizar esse relacionamento tão especial eram devidamente ignorados.

Algumas pessoas me consideravam um tanto neurótica. Algumas amigas, declaradamente e outras não tinham coragem de falar ou disfarçavam bem.

Claro que à noite, principalmente naquelas noites em que o bebê ficava muito quieto por um período longo, digamos, duas horas, ia ver se estava bem, mexia nele, examinava as roupinhas, os lençóis, à procura de algo que pudesse incomodá-lo.

Bom, também checava a respiração, tocava de leve para vê-lo movimentar-se, essas coisas que todas as mães fazem apenas por precaução, é claro.

Às vezes, acordada tinha sonhos inconfessáveis, como o de ser casada com um pediatra. Ficava imaginando a vida maravilhosa que essas mulheres de sorte tinham! A felicidade suprema de ter à mão e ao alcance do meu telefone esse ser fantástico que responderia cada pergunta que eu fizesse sem aquele olhar em parte condescendente e já minimamente paciente.

Mas não, tinha que ser casada com um advogado que tentava, sem muito sucesso, me convencer que assistir um filme na TV, claro, não colocaria em risco a integridade física e emocional do meu bebê. Com a babá eletrônica do meu lado, obviamente!

Conforme iam crescendo, as minhas atenções e meus cuidados se adequavam ao ritmo da minha vida, mas também aos progressos e, claro, às novas necessidades deles.

Hoje, com as mais amigas, relembro algumas situações e damos boas risadas.

O que não confesso, nem a elas, é a saudade que sinto daquela fase e que me invade quando, com a mochila nas costas ganham a rua.

Um beijo de despedida e, em resposta às minhas recomendações ganho um sorriso divertido acompanhado de um “relaxa, mãe”.