SONHO DE MENINO DE RUA
De: Ysolda Cabral
Na calçada de pedras pontiagudas, sobre um imundo lençol, dormia o menino de no máximo dezesseis anos. O Sol das seis da manhã, intenso e forte, há muito o secara do orvalho da madrugada e o cobria de gotículas de suor as quais, sopradas pela brisa que vinha do mar, brilhavam que nem estrelas.
Sua cabeça encostada no pneu de um carro, como se pneu fosse travesseiro, completava sua total vulnerabilidade. Sensibilizada, preocupada e compadecida com tanto desamparo, senti um aperto no coração e minha manhã ficou turva, nublada...
Angustiada refleti que, precisava fazer alguma coisa.
Entretanto, fiquei num impasse: ali se encontrava um garoto que dormia e talvez sonhasse com um lindo e bucólico lugar, onde não estivesse “soterrado” de descaso e de tanta solidão.
- Acordá-lo seria a atitude mais correta? Ficar velando seu sono eu não poderia... E, se o dono do carro chegasse e desse a partida, sem se aperceber o que do outro lado acontecia?
Devagarzinho, cheguei bem junto dele e sem tocá-lo, para não assustá-lo, lhe dei bom dia. Ele abriu os olhos surpreso e meio envergonhado me sorriu. Em seguida se levantou, dobrou, cuidadosamente, o lençol e foi embora.
Fiquei o dia inteiro com seu sorriso triste na cabeça e no coração.
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A belíssima tela, a qual ilustra este texto, é do maravilhoso artista plástico pernambucano, Carlos Lócio, pela qual sensibilizada agradeço.
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