O MITO DAS CAVERNAS
“Se alguém resolvesse libertar um daqueles pobres diabos da sua pesarosa ignorância e o levasse ainda que arrastado para longe daquela caverna, o que poderia então suceder-lhe? Num primeiro momento, chegando do lado de fora, ele nada enxergaria, ofuscado pela extrema luminosidade do exuberante Hélio, o Sol, que tudo pode, que tudo provê e vê.”(PLATÃO- o MITO DA CAVERNA)
Pode ser um grande engodo a vida da maioria das pessoas. Muito embora, a consciência desse fato seja quase sempre imperceptível ou ignorada! Nos casos de omissão, o pensamento geral é que nada poderia ser feito para mudar a realidade. Nota-se que as crenças e convicções mesmo que impróprias, resultam de condicionamentos do local e principalmente, com quem se convive. Tal realidade enganosa fica evidente, quando encontramos fora de nosso ambiente. Lembro-me de um encontro preparatório que participei, como exigência de meu matrimônio no religioso. O local era totalmente diferente do meu “habitat”. O coordenador do referido evento, um operário de uma das fábricas do bairro, não conseguia dizer uma frase sem falar do seu trabalho fabril. Para mim parecia estranho, contudo para todos os outros participantes era a coisa mais natural. Ali como em toda parte, as engrenagens estruturais do meio ditavam o “modus vivendi” de todos aqueles indivíduos.
Outra situação estranha que vivenciei, foi em uma cidade turística do triângulo mineiro. Fui visitar um irmão que morava nessa localidade. Percebi logo na chegada diversas propagandas de uma mineradora. Da mesma forma, no centro da cidade, cartazes e mais cartazes da referida empresa. Depois, liguei o rádio de uma emissora local: “lá estava insistente, a propaganda da mineradora”. A manifestação ostensiva de poder era intensa e fazia-se fortemente presente nos momentos da vida cultural e social daquela comunidade. Para meu espanto, todo mundo achava aquilo absolutamente normal. Eu pergunto: qual o interesse daquela empresa, não havendo concorrente? Posteriormente, fiquei sabendo que a extração mineral realizada por ela, produzia grande impacto ambiental. No entanto, o povo anestesiado por suas “benesses”, assistia tudo pacificamente, sem questionar.
Da mesma forma, violência, miséria, drogas, poluição e ignorância fazem parte do cotidiano de todos nós. Entretanto, pouco ou quase nada se faz para mudar essa triste realidade. A mudança em um primeiro momento é individual, sendo temerária, por representar a busca do inusitado e também por ser um procedimento solitário. Também, por não saber o seu real alcance: sê dolorosa, ou exultante! A dúvida gera angústia e impele ao retorno à mesmice. Não se tem garantia, nem certeza, quando trilha-se um caminho desconhecido. O risco é uma pólvora queimada, não dá para voltar atrás, daí a grande preocupação e às vezes o fracasso.
Mesmo aqui no RL, observam-se situações de comodismos e alienações, como em qualquer comunidade. Apesar das admoestações sempre pontuais de escritores como, MARCIO JR., ANA BAILUNE entre outros, sobre a triste realidade das “sombras da caverna”. Por outro lado, nota-se também, que alguns companheiros do Recanto, já conseguiram cruzar o patamar da iluminação. Exemplos não faltam, todavia, gostaria de citar alguns dessa seleta lista: NILTON DEODORO, ROBERTO REGO e MARIA OLÍMPIA ALVES DE MELO. Pelos seus escritos percebem que estão em um nível mais sutil, mais delicado, mais sereno, sobretudo mais Humano.Portanto, em outra esfera.
A autocrítica despojada de convicções remete inexoravelmente á luz que cega e maltrata os olhos, mas aos poucos leva a uma maior percepção. No entanto, são poucas as pessoas que conseguem viver essa nova realidade. Pena que o caminho a ser seguido difere de indivíduo para indivíduo. Todavia, o “estado de graça” obtido por elas nos pressiona a procurar algo mais. Como não existe receita pronta, cada um tem que buscar o próprio caminho. Essa nova realidade permite observar e conviver com a natureza em toda sua magnitude. Para isso, tem-se que dar o PASSO DECISIVO, que levará certamente ao patamar da iluminação.