O NOSSO VÔO 447 - Uma reflexão sobre a Vida

A decolagem foi suave e tranqüila. O poderoso pássaro de prata com suas turbinas com milhares de cavalos-forca arremessou para dentro das nuvens 200 mil toneladas de aço, bagagens, combustível, containeres e gente. 238 ao todo, homens, mulheres e crianças - legítimos representantes da espécie humana. As mais diferentes profissões, idades, nacionalidade e estado civil - a cor da pele, o nível socioeconômico, intelectual ou religião, são dados irrelevantes, porque independente de qualquer diferença visível ou invisível todos possuíam uma singularidade: humanos. Dos 216 passageiros do vôo da Air France, oitenta eram brasileiros, setenta e três eram franceses, dezoito alemães, nove italianos, seis americanos, cinco chineses, quatro húngaros, dois espanhóis, dois britânicos, dois marroquinos, dois irlandeses

um angolano, um argentino, um belga, um islandês, um norueguês, um polaco, um romeno, um russo, um eslovaco, um sueco, um turco, um filipino e um suíço. Ao todo 82 mulheres e 126 homens. Um era bebê e sete eram crianças...

Além dos 216 passageiros, ainda estavam a bordo 12 tripulantes. Cada um com sua história, expectativa, planos e sonhos. O senhor de meia idade, viajava com a esposa para realizar o sonho há tanto tempo adiado de conhecer Paris – a Cidade Luz. Um rapaz estava voltando para casa, depois de rever amigos. Uma moça cantora pensava em se dedicar mais à carreira artística e planejava novos shows pelo mundo. Um rapaz solteiro lembrava da namorada que iria pedir em casamento quando regressasse. O homem de negócios, o executivo da multinacional, rascunhava no notebook novos planos de negócios, meios de obter mais lucros para a sua empresa. Uma mãe com o bebê de colo, olhando-o dormir, embevecida com tamanha pureza e inocência, imaginava que futuro ele teria, que profissão escolheria. Refletia se de fato tomara a decisão certa quando pediu o divórcio - quando voltasse tentaria entrar num acordo e daria a eles outra chance. O adolescente sorria ao pensar em quantas garotas francesas iria beijar durante sua estadia em Paris. Duzentos e vinte e oito seres humanos e milhares de sonhos, planos, dúvidas, medos, esperanças, alegrias, necessidades, expectativas. Nisso se resume o ser humano.

E assim, alguma coisa aconteceu de modo inesperado. Um raio? Um erro dos computadores? Um meteorito? Uma super tempestade? Uma falha humana ou das máquinas? Os investigadores tentarão descobrir o que ocorreu para prevenir novos acidentes.

Talvez não valha mais a vale a pena pensar nos momentos finais de tantas vidas – é doloroso demais. O que pensaram, o que sentiram, o que disseram, o que desejaram, o quanto rezaram? Isso não importa mais.

Deles restaram apenas os atos, as ações, as palavras ditas ou não ditas, os beijos e os abraços oferecidos, os sorrisos e as lágrimas que provocaram, o bem ou o mal que produziram durante suas vidas. Mesmo o bebê que dormia no colo da mãe, era alguém que teve participação no mundo, seu sorriso, seu choro, sua beleza angelical própria dos inocentes, representaram uma vida, da mesma forma como uma flor, um pássaro, uma plantinha tem o seu lugar no Universo, quer sejamos capazes de entender isso ou não.

A lição que tiramos de acontecimentos como esse é que todos teremos nossos sonhos um dia interrompidos e um dia alcançaremos a fronteira da qual não existe mais retorno. Isso não deveria ser razão de preocupação para nenhum ser humano. Não existem árvores preocupadas se viverão mais um dia ou cem anos. Um cão, uma ave, se vive em liberdade, esbanja alegria de viver até o ultimo dia de existência.

Assim, os seres humanos que vivem a vida com liberdade, com intensidade, sem guardar felicidade para o amanhã – aqueles que não acumulam dentro de si, mágoas, raivas e rancores, estão aptos a partir qualquer dia, qualquer hora, sem nada a lamentar a não ser o fato de não terem feito mais, vivido mais do que viveram.

Desde o nascimento, estamos embarcados num vôo sem volta. A vida é o aqui e o agora. Alguns partiram ontem, uns partirão hoje, outros amanhã, não importando o modo, o lugar e circunstâncias. Se é assim, porque não decidimos nos tornarmos melhores amigos, pais, irmãos, maridos, esposas, vizinhos, colegas de trabalho, cidadãos e seres humanos mais generosos e amorosos? Tal atitude tornaria com certeza a nossa viagem mais feliz, alegre, segura e menos sofrida.

Para quê tanto egoísmo, violência, intolerância, inflexibilidade se estamos todos no mesmo vôo e iremos partir daqui sem levarmos nada? As bagagens dos passageiros do vôo 447, se espalharam pelo Oceano Atlântico. Mesmo que alguma coisa seja aproveitada, não servirá mais aos que se foram. Assim também será conosco não importa se viveremos 100 anos. Mas ninguém sabe por quanto tempo ainda vai viver. Por isso mesmo:

- Abra aquela garrafa de champanhe/vinho ou seja lá o que for que está guardada para uma ocasião especial – a ocasião especial chegou! É hoje, enquanto você está AQUI e pode saborear a bebida que aprecia, na companhia de seus entes queridos...

- Leve um buquet de flores para a pessoa amada...

- Diga aos seus entes queridos o quanto os ama...

- Escreva um email, uma carta, um bilhete apaixonado e mande para aquele pessoa que tanto admira e deseja! Certas coisas custam tão pouco...

- Faça um nova lua-de-mel, viaje mais, dance mais, cante mais, sorria mais, faça mais novos amigos...

- Abrace mais, namore, beije, faça amor com intensidade e sem pudores...

- Curta a Natureza, caminhe, nade, explore à sua volta tudo o que sentir vontade... Este mundo é para ser desfrutado, amado e preservado...

- Escreva um livro, leia um livro, componha uma música, aprenda tocar um instrumento musical, desenvolva um projeto social, se envolva em uma campanha pela preservação ambiental ou de qualquer outra natureza...

- Faça qualquer coisa que lhe dê prazer e que não cause dano às outras pessoas de nenhum modo.

- Procure fontes saudáveis de felicidade e alegria!

- Use seu tempo de viver de modo inteligente e criativo.

- Curta cada segundo como se fosse o último, pois um dia ele o será!

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O vôo Air France 447 era uma linha aérea de passageiros que ligava o Rio de Janeiro a Paris. Tornou-se conhecido pelo voo de 31 de maio de 2009, operado pelo Airbus A330-200, prefixo F-GZCP da companhia francesa Air France, quando a aeronave desapareceu dos monitores dos radares ao sobrevoar a costa do Brasil a cerca de 704 quilômetros de Fernando de Noronha e a 1 296 quilômetros de Recife, durante a travessia do Oceano Atlântico. O avião decolou do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro às 19h03 (horário de Brasília), com 12 tripulantes e 216 passageiros, incluindo um bebê, sete crianças, 82 mulheres e 126 homens, segundo a Air France. Deveria pousar às 11h10 locais (6h10 de Brasília) no Aeroporto de Paris-Charles de Gaulle, em Paris. As causas ainda não são conhecidas e os órgãos realizam as investigações relevantes.

http://pt.wikipedia.org/wiki/Airbus_A330