ROLINHOS NOS CABELOS E CAMISOLA DESBOTADA
Estavam casados havia 15 anos. Embora ainda fossem jovens, já viviam como se estivessem desencantados da vida.
Ele, aos domingos, ficava de pijama até a hora do almoço. Ela dormia com rolinhos no cabelo e aquela camisola desbotada. Os 20 quilos que adquirira com aquela vida sem grandes movimentos a faziam feia e não havia roupa que lhe ficasse bem.
Ele tinha vergonha de sair com ela. Ela tinha vergonha de sair com ele.
Nenhum dos dois tomava a resolução de se separar, mas a verdade é que já estavam separados havia muito tempo.
Um dia, um telefonema anônimo, modificou a vida dos dois.
Ela atendeu e alguém lhe disse que seu marido tinha uma amante.
Foi só o que ela necessitava para tomar a decisão. Brigaram, discutiram, ele negou - como sempre, inteligentemente, fazem os homens. Ela se agarrou à possível traição e resolveu botar um ponto final naquele relacionamento.
Separaram-se e cada um modificou a sua vida.
Ele resolveu jogar o velho pijama fora e dormir nu, como sempre preferira, mas que não o fazia mais porque ela achava horrível. Passou a caminhar, comprou novas roupas, mudou o corte do cabelo e parecia outro homem.
Ela foi para a academia, voltou a estudar, emagreceu os 20 quilos que a vida sedentária lhe tinha proporcionado, e arranjou um namorado.
A maior parte das pessoas acha que a separação é uma coisa horrível e algumas se entregam a um luto, como se alguém tivesse morrido. O que elas não entendem é que o fim de uma coisa é o começo de outra, que pode ser muito melhor do que viver anestesiadas, como se fossem meros expectadores da vida.
A lagarta vira borboleta, embora seja um pouco doloroso sair do casulo.
Muitas vezes o casulo é de ouro, mas mesmo assim é um casulo que enclausura o corpo e a mente.
O melhor é voar...voar....voar e procurar a felicidade.