PANFLETO
Vou passando pelas calçadas e o agente publicitário lança em minha mão um papel para mim. Cada passo, cada movimento um novo papel enfim. Não tenho tempo de dizer não, nem ele espera eu dizer sim. Vida na cidade grande é assim: passa muito veloz e a concorrência não se cansa, nem dança.
Panfleto, enredo de propaganda, convence adulto e criança. E nessa história da propaganda ser a alma do negócio eu já nem consigo ficar de mãos vazias, todos os dias e todas as horas é sempre assim: “Olha o preço baixo!”, “Conserta-se: sapatos, panelas e vasos!”. Que absurdo! “Nossa igreja é ali!”, “Boate ao lado!”, “Venham se divertir!”.
E vou enchendo as mãos, os bolsos, panfleto dos pés ao pescoço e dinheiro longe de mim. Meus passos tapeiam o tempo. “Olha meu rapaz, compre carros aqui”. Ignoro o entregador, que quer ser doutor. Não posso agir assim! Papel no bolso, papel no chão... “Entra aqui meu irmão!”, “Venha conferir!”. Papel na mão, papel no calçadão, nem chama mais a atenção, tenho que ir...
Panfleto, poluição visual, sujeira ambiental, papel ao vento, ao relento, no ônibus, no assento não é documento, é tentativa do aumento do ganha-pão. Receba o panfleto do entregador, pedestre, doutor, pois ele está prestes a ser mais um desempregado, escuta o recado, preste-lhe atenção. Na próxima esquina, de olho nele está seu patrão, sem panfleto na mão.
Panfleto, papel informativo: “Tome aqui aperitivo!”, “Pague só o mês que vem!”, “A vista é cinqüenta!”, “A prazo é cem!”, “Não tem inflação!”, “Aproveite meu irmão!”.
“Está desempregado?”, “Ganhe dinheiro fácil trabalhando comigo”.
Panfleto, “Obrigado bacana!” “Aqui você não se engana!”, “Aqui é você quem manda!”. “Fazem-se panfletos!”.