Na festa do Poverello
Frei Francisco, o Poverello, morreu na tarde de 3 de outubro de 1226, no chão frio de sua cela fradesca. No dia seguinte, 4 de outubro, foi enterrado na cidade de Assis.
Na primeira vez que procurei chegar a Assis não fui além de Roma. E digo por quê. Momentos antes de viajar, um terremoto sacudiu a doce Úmbria, tirando bruscamente a cidade de São Francisco de Assis do meu roteiro.
O abalo, que na escala Richter foi apontado como de considerável magnitude, obrigou o governo italiano a proibir, temporariamente, a entrada de turistas na terra natal do Poverello.
Pela televisão romana acompanhei as reportagens mostrando o estrago causado pelo sismo. A Basílica de São Francisco, em cujas paredes estão os franciscanos afrescos de Giotto e Cimabue, aparecia seriamente danificada.
No hotel, o pessoal da recepção, vendo-me desolado com o que acontecera, informou-me que o último terremoto a machucar a bela Úmbria tinha ocorrido há mais de oitocentos anos.
Chateado, despedi-me de Roma, e fui curar minha frustração em Paris; ou mais precisamente, em um simpático barzinho do acolhedor Quartier Latin.
Dois anos depois, pus-me, outra vez, a caminho do monte Subásio, com Ivone ao meu lado, torcendo para que tudo desse certo.
Ela sabia que eu sempre alimentara o desejo de andar pelas ruelas da medieval Assis; como o fizera, no século 13, Francisco, o boêmio; e, depois, Francisco, o santo.
Atravessei os olivais da Úmbria me perguntando por que a Natureza castigara, com tamanho furor, as montanhas e os vales de uma região tão bonita da encantadora Itália. Não poupando sequer a pequenina Assis, a mais venerada das cidades italianas.
Em Assis, atento às restrições impostas pelas autoridades locais, vi o que me foi permitido ver.
Estive no Oratório de San Francesco Piccolino, um acanhado aposento onde, em setembro de 1182, nascera o santo seráfico. Lá está escrito: "Hoc oratorium fuit bovis et asini stabulum in quo natus S.Franciscus mundi speculum."
Visitei a capela Del Transito onde Francisco morreu recitando o Salmo 141, de Davi, e ouvindo suas amigas cotovias, em ritmados arrulhos de tristeza e de saudade.
Fui à Porciúncula, "o berço do espírito franciscano". É uma capelinha modesta, guardando sua feição original, no interior da exuberante Basílica Patriarcal de Santa Maria degli Angeli.
Senti bastante não ter podido conhecer o interior da Basílica de Santa Clara, a filha dileta de Francisco. A Basílica fora seriamente atingida pelo terremoto. Estava parcialmente interditada.
Mas, em uma de suas capelas, acho que a única com acesso livre, encontrei-me com o crucifixo bizantino de São Damião, o mesmo (?) que fizera este pedido ao Poverello: "Francisco, conserte a minha casa, que está caindo, em ruínas."
Conclui minha visita a Assis fazendo minhas orações na capela subterrânea onde estão os restos mortais do Irmão Francisco.
Na Europa, conheci túmulos de reis, rainhas, papas, poetas, escritores e pintores famosos. Todos me impressionam pela imponência dos seus mármores trabalhados por mãos hábeis de notáveis artistas e renomados escultores.
Assim são, por exemplo, os mausoléus de Machiavel, de Rossini, de Galileu, e de Michelangelo, que podem ser admirados na igreja da Santa Croce, em Florença.
Mas foi diante do túmulo pobre de Francisco das Chagas, que me ajoelhei.
O túmulo: nada além do que uma pequena urna de pedra tosca escondida no alto do altar-mor de uma capela quase às escuras; ou "Dois blocos de pedra amarrados por alguns ferros retorcidos", assim alguém o descreveu.
É difícil esquecer a tumba do Pobrezinho de Assis. Amado pelos que têm Fé e respeitado pelos que não acreditam em nada, Francisco de Assis, o Santo do Segundo Milênio, é, hoje, 4 de outubro - estamos em 2007 - o dono da festa.
Frei Francisco, o Poverello, morreu na tarde de 3 de outubro de 1226, no chão frio de sua cela fradesca. No dia seguinte, 4 de outubro, foi enterrado na cidade de Assis.
Na primeira vez que procurei chegar a Assis não fui além de Roma. E digo por quê. Momentos antes de viajar, um terremoto sacudiu a doce Úmbria, tirando bruscamente a cidade de São Francisco de Assis do meu roteiro.
O abalo, que na escala Richter foi apontado como de considerável magnitude, obrigou o governo italiano a proibir, temporariamente, a entrada de turistas na terra natal do Poverello.
Pela televisão romana acompanhei as reportagens mostrando o estrago causado pelo sismo. A Basílica de São Francisco, em cujas paredes estão os franciscanos afrescos de Giotto e Cimabue, aparecia seriamente danificada.
No hotel, o pessoal da recepção, vendo-me desolado com o que acontecera, informou-me que o último terremoto a machucar a bela Úmbria tinha ocorrido há mais de oitocentos anos.
Chateado, despedi-me de Roma, e fui curar minha frustração em Paris; ou mais precisamente, em um simpático barzinho do acolhedor Quartier Latin.
Dois anos depois, pus-me, outra vez, a caminho do monte Subásio, com Ivone ao meu lado, torcendo para que tudo desse certo.
Ela sabia que eu sempre alimentara o desejo de andar pelas ruelas da medieval Assis; como o fizera, no século 13, Francisco, o boêmio; e, depois, Francisco, o santo.
Atravessei os olivais da Úmbria me perguntando por que a Natureza castigara, com tamanho furor, as montanhas e os vales de uma região tão bonita da encantadora Itália. Não poupando sequer a pequenina Assis, a mais venerada das cidades italianas.
Em Assis, atento às restrições impostas pelas autoridades locais, vi o que me foi permitido ver.
Estive no Oratório de San Francesco Piccolino, um acanhado aposento onde, em setembro de 1182, nascera o santo seráfico. Lá está escrito: "Hoc oratorium fuit bovis et asini stabulum in quo natus S.Franciscus mundi speculum."
Visitei a capela Del Transito onde Francisco morreu recitando o Salmo 141, de Davi, e ouvindo suas amigas cotovias, em ritmados arrulhos de tristeza e de saudade.
Fui à Porciúncula, "o berço do espírito franciscano". É uma capelinha modesta, guardando sua feição original, no interior da exuberante Basílica Patriarcal de Santa Maria degli Angeli.
Senti bastante não ter podido conhecer o interior da Basílica de Santa Clara, a filha dileta de Francisco. A Basílica fora seriamente atingida pelo terremoto. Estava parcialmente interditada.
Mas, em uma de suas capelas, acho que a única com acesso livre, encontrei-me com o crucifixo bizantino de São Damião, o mesmo (?) que fizera este pedido ao Poverello: "Francisco, conserte a minha casa, que está caindo, em ruínas."
Conclui minha visita a Assis fazendo minhas orações na capela subterrânea onde estão os restos mortais do Irmão Francisco.
Na Europa, conheci túmulos de reis, rainhas, papas, poetas, escritores e pintores famosos. Todos me impressionam pela imponência dos seus mármores trabalhados por mãos hábeis de notáveis artistas e renomados escultores.
Assim são, por exemplo, os mausoléus de Machiavel, de Rossini, de Galileu, e de Michelangelo, que podem ser admirados na igreja da Santa Croce, em Florença.
Mas foi diante do túmulo pobre de Francisco das Chagas, que me ajoelhei.
O túmulo: nada além do que uma pequena urna de pedra tosca escondida no alto do altar-mor de uma capela quase às escuras; ou "Dois blocos de pedra amarrados por alguns ferros retorcidos", assim alguém o descreveu.
É difícil esquecer a tumba do Pobrezinho de Assis. Amado pelos que têm Fé e respeitado pelos que não acreditam em nada, Francisco de Assis, o Santo do Segundo Milênio, é, hoje, 4 de outubro - estamos em 2007 - o dono da festa.