ENIGMA

Sento-me na varanda e aprecio, deslumbrada, as cores e os sons da natureza. A primavera começa tímida no Sul; manhãs e noites frias ainda, o vento agita fortemente as árvores. Não fosse ele e o calor gostoso da estação já estaria acariciando o corpo ressentido, pós inverno. Algumas árvores frutíferas atraem passarinhos em profusão. Com exceção dos pardais, que esses são inconstantes, os demais vêm aos pares. Frequentadores habituais, casais de pombas, bem-te-vis, joão-de-barro, canarinhos, sabiás. É lindo vê-los namorando, construindo ninhos, cantando alegremente. O ar se enche de encanto e poesia.

Apesar de tudo isso, eu me indago: de onde vem essa melancolia dolorida e profunda, que faz minha alma se ausentar desse cenário? Que caminhos percorridos deixaram marcas nos pés cansados? Que sensação é essa que me torna viajante insaciável, na ânsia infinita de algo que não vem? Sou ser pensante algemado ao fatalismo? Porque a mente constrói e a realidade não materializa?

Sou uma dualidade ambulante e as paredes do destino cerceiam minha liberdade. Queria poder voar como os pássaros. E, como eles, cantar despreocupada. Mas, ser racional e emocional tem um peso. Portanto, deve ter um propósito. Será que um dia decifro esse enigma?

Giustina
Enviado por Giustina em 14/10/2010
Reeditado em 14/02/2014
Código do texto: T2556679
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