VENHO DE UM NASCER EM DESAMOR.
NASCI DE UMA MÃE EM DESAMOR *
DE UM PAI QUE IRIA DEIXAR-ME.
E PELA VIDA INTEIRA DA MINHA INFÂNCIA,
DISSERAM-ME IMPIEDOSAMENTE:
TEU PAI TE ABANDONOU!
E EU, AQUELA CRIANÇA TRISTE,VI SER ROUBADA DE MIM A ALEGRIA
DE TER A MÃO DO PAI A ME ENSINAR E ME CONDUZIR PELA VIDA.
CRESCIA MAIS QUE EU,A TRISTEZA E A SOLIDÃO.AFINAL CRIANÇA
NÃO TINHA QUERER... -MAS EU QUERIA TANTO! APRENDI A CALAR
DESGOSTOS SÓ MEUS.
EM MEU MUNDO PEQUENO,DE TANTAS FRONTEIRAS
EU ERA SÓ A AMARELA,COMO DIZIA MINHA MÃE, QUE NUNCA ME
CONVENCEU DO SEU AMOR POR MIM .
EU TRISTE SEMPRE,COM TÃO POUCAS CHANCES E TANTOS DRAMAS!
CALADA,TOLHIDA.-NÃO TINHA QUERER.
CHORAVA SOZINHA MINHAS DORES,SEMPRE EM SILÊNCIO.
CRESCIAM EM MIM MEDOS E FOBIAS QUE TRAGO ATÉ HOJE.
A AMARELA DA CASA.-AMARELA E DESAMADA.
FUI À ESCOLA BEM TARDE,AOS NOVE ANOS.
APRENDI LOGO A LER,PORQUE ABRACEI O DESAFIO COM AFINCO.
NA LEITURA ENCONTREI-ME.ERA MÁGICO,EU TINHA UM PORTAL
PARA ME TIRAR DO MUNDO HOSTIL.
MERGULHADA DE CABEÇA EM VELHOS LIVROS,EU VIAJAVA E
ENCONTRAVA A PRÓPRIA FELICIDADE SORRINDO PARA MIM.
EU SEMPRE FUGIA PARA OS POUCOS LIVROS AOS QUAIS TIVE
ACESSO.E EM TROCA ELES FIZERAM DE MIM A PRETENSA
ESCRITORA DE AGORA.
-AQUELA MENINA FRANZINA E DESAMADA APRENDEU A AMAR COM
OS LIVROS...
HOJE, ADULTA O MAIS QUE POSSO,AMO E ME SINTO AMADA.
MAS NUNCA EXPERIMENTEI O AMOR DA FAMÍLIA QUE ME GEROU.
AGORA O DESAMOR DA MÃE,JÁ PERDEU O PESO.
SOU ÓRFÃ DE FATO E DE DIREITO.
O PAI QUE AINDA VIVE, É SÓ UM NOME NO DOCUMENTO.
MAS A VIDA JÁ ACOLHEU A MENINA.
QUE HOJE NÃO MAIS LAMENTA,E QUANDO AS LEMBRANÇAS TRAZEM
À MENTE A DOR DAQUELA CRIANÇA,TENTO APENAS SORRIR.
MESMO QUE AS LÁGRIMAS CAIAM DESSES OLHOS AINDA TRISTES.
SEGUIR EM FRENTE É MEU OBJETIVO.
AINDA EM APRENDIZADO,PRECISO CRESCER.
*OBVIAMENTE,OU NEM TÃO ÓBVIO ASSIM,ENTENDAM QUE, EMBORA
NARRADO NA PRIMEIRA PESSOA DO SINGULAR,(PRONOME EU)NÃO
SIGNIFICA, NECESSARIAMENTE QUE A AUTORA SEJA ESSA CRIANÇA...