"FELECIDADE" tem nome: Deserto do Atacama - Chile.

Felicidade tem nome? Bom, se tem nome não sei, mas que tem cara... lá isso tem! É só olhar os rostos dos mineiros que saíram do interior da mina lá no Atacama , em especial o segundo e o terceiro mineiros resgatados. Todavia seria de esperar que a cara da felicidade viesse mesmo aparecer nesse caso, uma vez que ter um corcovado sob a sua vida deve ser a pior situação de desesperança que uma pessoa pode viver, e depois sair assim num explosão de luz para a liberdade, deve ser mesmo algo que palavra nenhuma no mundo é capaz de descrever o alivio sentido por cada um dos mineiros que estiveram lá, nesse abismo extremo de solidão, que bem podia ser o túmulo de sepultamento de cada um deles.

Porém não é possível crer que, em sendo trabalhadores comuns, se pudessem ter condições de reunir tanta energia e um aparato altamente cientifico e tecnológico, no sentido de buscar o rasgaste dos mineiros que ficaram soterrados por uma montanha equivalente em altura ao cristo redentor.

O tamanho da tragédia era exatamente o tamanho da fé dos que estavam presos no interior da mina e dos familiares que acreditavam o tempo todo que eles estavam vivos, principalmente nos primeiros dezessete dias que se sucederam à tragédia, onde não se podia ter sequer uma mínima certeza que eles estivessem sobrevividos ao acidente.

Todavia, o Chile deu um grande exemplo ao mundo ao não medir esforços e nem recursos para resgatar os trinta e três mineiros, que ficaram por 69 dias confinados na mais profunda escuridão, para novamente trazê-los de volta às suas vidas.

Então, esse mesmo homem que é capaz de fazer a guerra pelo mais simples e banais dos motivos, também é capaz de se doar até a última gota de suor por alguém que até ontem sequer imaginava que existisse. E, principalmente, numa época tão louca como essa, em que a maioria dos valores humanos parecem relegados ao segundo plano. Pois, o mundo está mergulhado num poço de indiferença e num tremendo individualismo, onde o egoísmo e o hedonismo parecem ter fundados seus alicerces, ou seja, talvez exista uma luz no fim do túnel que seja capaz de trazer foco para cima da exploração humana.

Não é possível que em nome da construção de uma riqueza, ou seja lá do que for, pátria, nação, religião, política ou ecossistema que estejamos sacrificando aquilo que de mais precioso temos... “Nossa condição de ser humano”! É o mesmo caso trazido pelo saudoso poeta Carlos Drummond de Andrade em Anedota Búlgara, que dizia: “ Era uma vez um Czar naturalista que caçava homens. Quando lhe disseram que também se caçavam borboletas e andorinhas, ficou muito espantado e achou uma barbaridade”.

Assim, em nome do “Ter” e do “Querer” não se pode afogar os princípios fundamentais da pessoa humana. A ambição só pode ter espaço no sentido de vim como um passo para construção de um mundo onde a dignidade humana exista como um pilar fundamental, que venha assentar a base de uma sociedade melhor em termos de solidariedade. Tomará que aquilo que ocorreu no Deserto do Atacama venha fazer com que seja repensada a exploração humana na exploração das riquezas materiais, pois estas não podem ser valoradas pela quantidade de vidas que se subtraem para edificação de seus ostentosos prédios.

Uma vida humana, por mais que venha ser classificada como inexpressível, não pode ser valorada por balizes econômicas e materiais, pois ela é o resultado de uma conjunção astral universal e dum profundo evolucionismo ancestral, cujo o cristalino de sua molécula carrega na essência o segredo da renovação e da eternidade, e, que ao atravessar as muralhas dos séculos sofre esse valoroso processo de lapidação que vai culminar na construção dos santos, dos cientistas, dos poetas, dos músicos, dos médicos e dos homens simples e de boa vontade, como os que acabaram participando desse resgate de forma anônima, mas que tiveram a mesma importância dos milhões que foram gastos pelo governo chileno na operação de busca. Afinal de que vale todo o dinheiro do mundo frente ao valor do espírito humana na busca de superação das adversidades contingenciais?!

(Fábio Omena)

Ohhdin
Enviado por Ohhdin em 14/10/2010
Reeditado em 18/10/2010
Código do texto: T2556319