PROPRIEDADE
Toca a campainha. Um homem de cabelos compridos, barba e vestindo uma túnica aguarda no portão.
– Boa tarde. – Cumprimenta o homem de túnica.
– Boa tarde. O que o senhor deseja? – Pergunta o dono da casa.
– Vim buscar meu carro.
– Ahn?
– É, vim pegar meu carro.
– Que carro?
– Esse aí que está na garagem.
– Mas esse carro é meu.
– Não senhor, é meu.
– Como assim? Eu paguei por ele.
– Pode até ser, mas foi você mesmo que quis que ele fosse meu.
– Me diga, onde está escrito que esse carro é seu?
– Ali, naquele adesivo no vidro traseiro. Está em letras garrafais: "Propriedade de Jesus". Portanto, o carro me pertence.
– Olha aqui, seu maluco. Você tá querendo que eu acredite que você é Jesus?
– Não. Não posso obrigar ninguém a acreditar em nada. Mas cumprir os compromissos assumidos não tem nada a ver com acreditar. A palavra é o que define o caráter de um homem. Eu até me contentaria com 10%, um par de rodas, o banco do passageiro, mas como foi você que tomou a iniciativa, pode ir lá dentro pegar as chaves.
– Meu Deus!
– Não adianta apelar, rapaz. Já falei com o papai e Ele está do meu lado.
– Tudo bem, tudo bem... Vamos entrar nesta insanidade. Digamos que é verdade, então, como saberei se você é Jesus mesmo? Prove!
– Pois não está vendo a barba e o cabelo comprido?
– Hahaha, e eu ainda lhe dou ouvidos. Desculpe-me, mas vou entrar...
– Espera. Traga-me um copo de água e eu provarei.
Desconfiado, mas querendo livrar-se logo daquela situação, o homem entra em casa para buscar a água.
– Aqui está. Também trouxe um pão com mortadela, você deve estar com fome.
– Olhe para o copo novamente...
O copo continuava no mesmo lugar, mas, de repente, o líquido ficara vermelho.
– Pai! – O homem cai de joelhos. – Perdoe-me, eu não sabia...
– Tudo bem, tudo bem, fica tranquilo. Pilatos também vacilou neste lance de acreditar... E Pedro fez ainda pior; não é exclusividade sua. Agora, onde estão as chaves do meu carro?
– Aqui está, pode levá-lo.
– Obrigado. Só que, convenhamos, “propriedade” é uma palavra que carrega uma certa empáfia. Acho que vou trocar o adesivo para “Jesus a bordo”; o que acha? Mais simpático, né?