SUPERSTIÇÃO

Você já vestiu aquela camisa da sorte em dia de final de campeonato? Já colocou cueca branca na virada de ano novo? Desviou o caminho para não passar por debaixo de escada? Tem alguma nota ou moeda que guarda há anos na carteira, para “não faltar dinheiro”? Sentiu-se incomodado ao cruzar com um gato preto? Acha que a lua cheia muda ânimos e humores ou que a sexta-feira 13 é dia sombrio? Então, creio, você seja supersticioso.

E se é, deve ter ficado ao menos curioso com a data que se passou esta semana: dia 10 do mês 10 de 2010.

Vi, em uma matéria do telejornal local, que um grupo de amigos marcou (com 10 anos de antecedência) um encontro para dali 10 anos: às 10h10 do dia 10 de outubro de 2010... ou seja, neste domingo que passou.

Claro que não vi neste ato nenhuma manifestação de superstição arraigada, pois a intenção era o reencontro e não um ato de oferenda a um santo qualquer. Quer dizer, pensando melhor, apesar da reunião ser o foco, houve ali uma simpatia velada com o número 10. Afinal, por que não marcaram o encontro para dali 11 anos, no dia 11 do mês 11 de 2011? Por que, então, o número 10?

Daí vem uma enxurrada de conversinhas:

“Ah, é porque nós vivemos em uma sociedade baseada nas escalas decimais” (Seja lá o que isso queira dizer).

“Porque ser nota 10 é o máximo”.

“São 10 mandamentos”.

Ou: “O Pelé, oras, o Pelé vestia a 10”, e blá, blá, blá.

Portanto, no que se refere a estatísticas, crendices e crônicas, você pode entortar as coisas para o lado que lhe convir.

Bom, voltando... No fim das contas, tudo são símbolos. O que prova que vivemos em uma sociedade que, por mais que seja em ações inconscientes, dá mais valor ao invisível, ao improvável, ao sobrenatural, ao místico, ao fantástico, ao simbólico do que ao concreto. E a prova está no fato de termos mais gente em igrejas do que em laboratórios.

“Porra, Beto, mas larga mão de ser chato! Aposto que se fosse um encontro no dia 12 do mês 12 de 2012 você ia tá falando a mesma coisa e, pior, ainda comparando com aquele calendário Maia maluco que rendeu até filme...”

Tem razão, pois até o ano 2000 esse dito calendário Maia nem existia. Foi “sobrevivermos” ao apocalipse da virada e ao bug do milênio que os profetas foram à caça de uma nova explicação que remarcasse o fim do mundo para dali um certo tempo.

Isso me fez lembrar de outro caso. Dia desses, vi no vidro traseiro de um carro o seguinte adesivo:

“Acredite você ou não, Jesus retornará”.

Bom, vamos por parte como diria o Jack, The Ripper. Acredite, “eu”, ou não em quê? Em Jesus ou no retorno dele?

Se a pergunta for a primeira. Sim, claro que acredito, afinal, a bíblia é um documento histórico (por mais manipulado que tenha sido ao longo dos séculos – leia-se aí concílios, Idade Média, bulas papais, etc.) e, em comunhão com outras provas arqueológicas (como, por exemplo, relatos, do séc. I, do historiador Flavio Josefo e até o Alcorão) sei que ele existiu. Ponto.

Quanto à segunda: importa a minha opinião? Ou melhor: qual a relevância, para aquele motorista, da minha opinião, ou a de qualquer outro por ali trafegando, sobre o assunto? Por que, diabos, a pessoa dentro daquele veículo deu-se ao trabalho de colocar um adesivo no vidro traseiro de seu carro para dar um “pito” nos motoristas que o sucediam? Pois, garanto, ele não o fez para seu puro deleite. Se assim o fosse, guardasse suas convicções para si e não ficasse sapecando recado, em tom de desafio e de pergunta, com interrogação e tudo mias (que subentende resposta) no vidro traseiro do seu carro. Ou seja, se ele acredita no que quer que seja, parabéns, mas não queira pastorear novas ovelhinhas no trânsito. É até perigoso, pois fiquei pensando nisso na hora e quase furei o sinal vermelho.

O fato é que, por via das dúvidas, o melhor é você começar a marcar seus reencontros desde já, pois, creia no que creia, o dia 10 do mês 10 de 2010 já era; o 11 do 11 de 2011 está logo ali; 12 do 12 de 2012 os Maias já pegaram pra eles e, mesmo que queira e insista, não teremos um 13 do 13 de 2013 pra contar história.

Sem falar que... vai que Jesus retorna neste meio-tempo...