Velho Bar ( No brilho de seus olhos)

Eu não sabia de onde viria a luz.

Nem de onde viria a salvação.

Eu não me importava,

Não sentia medo.

Eu já tive medo.

E o meu medo

Me prendia a algo.

Coisa que fazem pessoas se dobrarem,

Deixam-as fracas

Sem força,

Coragem,

Sentem medo.

Choram, gritam proclamam louvores

E de joelhos no chão,

Ardendo,

Levantam as mãos para o céu

E tentam pedir a tal salvação.

Pagam mensalmente por ela.

Visitam-a semanalmente.

Cumprem rituais.

Seguem mandamentos.

Por que querem?

Ou por medo?

Dão glórias.

E se trabalham e conseguem colher frutos

Dedicam-os a eles.

Se procuram algo rogam a eles.

Se encontram algo é graças a ele.

Se um acidente grave tira a vida de um jovem

Foi por que ele quiz.

Se de uma forma imprudente uma criança morre

É por que a hora dela chegou.

E se uma criança nasce com uma grave deficiência

É por que a família esta passando por uma aprovação.

Mas aquela família desejou participar dessa prova?

Ele se escreveram para esse reality show?

Não, ele não perguntou se você aceitaria participar.

Sinta-se privilegiado, você é o escolhido

E de joelhos sangrando, no chão frio, agradeça a ele.

Assim como agradeceu aqueles

Que tiveram seus filhos curados de uma gravíssima doença.

E que ao ver a luta dos médicos,

Seus esforços em busca de soluções,

Livros e mais livros, estudos avançados.

A família que fora esquecida, para que o médico,

Dedicado em encontrar a salvação,

Ajudasse o pobre menino que,

Pediu pra nascer assim?

Pediu pra sofrer, sentir dor,

Passar por seções e mais seções de quimioterapia,

Faz com que seus país não dormissem, trabalhassem ou descansassem.

E quando o dedicado doutor encontra a tão esperada cura

Quem é o único nome a ser vangloriado?

E o médico?

Alguém se lembrou do nome dele?

E o abraço que ele queria receber?

Você deu?

Não mas seus joelhos novamente tocaram o chão.

Seus lábios foram direcionados ao cimento.

Que esculpido por um artista passam a ter vida,

E fazem cirurgias arriscadas.

Mas alguém já os viu no leito de um hospital?

Será que eles estão por trás das mascaras?

Não.

Atrás das mascaras existem homens,

Que não pedem beijos e nem dízimos.

E as crianças que agonizam nos leitos,

Se elas pudessem escolher nasceriam assim?

Aposto que não.

Aposto que queriam brincar, correr

Cantar, pular.

E você com certeza a obrigaria

Acordar cedo no domingo.

Iria vesti - lá com a melhor roupa do armário.

Colocaria entre suas axilas, palavras de salvação.

A arma do oprimido, do fraco.

Mas será que ela queria dobrar seus pequeninos joelhos

Em busca de algo ou em prol de alguém

Que se alegra em ver pessoas sofrendo?

Ou vai me dizer que algo tão poderoso

Como mostram os escritos.

Iria permitir que os seus mais preciosos feitos,

Os seus filhos, como dizem por ai.

Sofressem tanto assim?

Um pai que não luta para salvar seus filhos

Mereceria tantos elogios?

Um pai que diz:

“Para o jumento o feno, a vara e a carga.

Para o escravo o pão, o castigo e o trabalho” (Eclo 33, 25)

E esse escravo, não é filho dele?

Ele é pai apenas do senhores feudais, capitalistas?

E as guerras e os incontáveis conflitos que mataram milhões de pessoas?

Por causa do que?

De crenças, costumes, religiões.

Um livro profético, santo

Que traz detalhadamente a inferioridade das mulheres.

Que julga a mulher subordinada ao homem

Subordinada apenas ao sexo e ao prazer.

E quantas mulheres ainda se jogam ao chão idolatrando a ele?

Mulheres essas que a meu ver,

São seres mais belos e importantes do universo.

Mulheres que nos dão o alimento, colo, vida.

E por ele são tratadas com desprezo.

Não quero criticar sua fé, sua crença ou ideologia.

Eu fui assim

Eu vivi esse meio.

E hoje me arrependo.

Eu fui não por que eu queria,

Mas fui por que alguém me obrigava.

E depois de ter minha autonomia

Continuei indo para impressionar o meio em que vivia.

Mas abri meus olhos.

E quando eles passaram a enxergar a luz

Eu pude ver o medo estampado em todos os rostos ali presentes.

A luz forte, fez com que meus ouvidos voltassem a ouvir.

E eu pude escutar os gritos de desespero, e

Olhando nos olhos de cada um vi lágrimas de fogo

Que escorriam enquanto, desesperados clamavam salvação.

A luz refletiu fortemente sobre as algemas,

E sobre as grossas correntes que nos mantinha presos ali.

E a luz me deu forças, e pude arrebentar as algemas e me libertar.

Feliz,corri para a liberdade.

Procurando avistar a luz novamente.

E na busca eu pensava de onde ela poderia ter vindo.

Tentaram me impedir de viver a liberdade.

Tentaram oprimir minhas idéias.

Disseram que ele poderia se revoltar com minha atitude

E me punir.

Alertaram-me que eu corria perigo.

Mas eu gosto de perigo.

O perigo me traz coragem

Deixa-me forte.

Desde então eu acordo disposto aos desafios.

Se ele vier falar comigo, estarei todo ouvido.

Debateremos juntos, questões que amargam meu viver.

E buscaremos soluções para aqueles que permanecerão acorrentados.

Mas enquanto ele e seu filho não vêm, eu continuo aqui.

Não me ajoelho pedindo salvação

Eu a busco.

E nos braços de uma pequena mulher eu a encontrei.

E a luz que me salvou

Estava no brilho daqueles olhos.

Walison Muniz
Enviado por Walison Muniz em 14/10/2010
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