A dignidade ainda subsiste
Dona Vilma é uma das pessoas cuja participação na comunidade deixa marcas indeléveis de sua passagem terrena. Dona-de-casa, líder sem afetação, tem contribuído decisivamente para melhorar a vida de humildes famílias do meio rural no município de Itabaiana. Fundou e toma conta de uma associação de moradores no lugar Maracaípe, sítio onde começou a povoação de Itabaiana no século dezoito.
Maracaípe hoje é um lugar “sem futuro” para as novas gerações, depois de décadas de esquecimento e pouco caso das ditas autoridades em relação ao meio rural. É a nossa tragédia campesina de sempre, com um dado particular: em Maracaípe moram pequenos proprietários, gente que não consegue mais sobreviver com a produção da agricultura de subsistência e não tem tradição de cooperativismo. “Só unidos somos fortes”, diz dona Vilma. Para isso criou a Associação com seus projetos de geração de renda e educação.
Honestíssima, dona Vilma não gosta da presença de políticos na área. “Só aparecem em vésperas de eleições”, repete, enquanto procura inculcar nas mentes dos seus vizinhos o ideal de que são capazes de se virar sozinhos, a partir de que se vejam não como coitadinhos que precisam de esmolas, mas como cidadãos aptos a comandar seus próprios destinos. Para isso é preciso saber ler. Vem daí a preocupação de dona Vilma com a formação cidadã e cultural do seu povo. Na Associação funcionam duas turmas de alfabetização de adultos. Para incentivar a leitura, a Associação procurou o Ponto de Cultura Cantiga de Ninar em busca de projetos voltados especificamente para essa área. O propósito é iniciar uma biblioteca, exibir filmes e capacitar os jovens do lugar para que sejam produtores e transmissores de conteúdos culturais.
“Fico triste quando vejo nossos jovens irem para a cidade e voltarem embriagados, porque lá também não temos opções sadias de lazer e cultura”, lamenta dona Vilma. Na Associação já rolam projetos de geração de renda, como o pequeno moinho e as fábricas de produtos de limpeza e estacas de cimento. Falta visão empresarial, falta a mão do Estado, falta capital de giro, mas sobram esperanças em meio à perplexidade do viver isolado e sem apoio. Dona Vilma é o esteio da estrutura de aspirações que dão suporte aos sonhos da comunidade. Cansada do papel de provedora das carências sociais e humanas do seu povo, já procurou se afastar da direção da entidade. Mas sempre é chamada de volta. “Ninguém aguenta levar, porque a gente gasta do próprio bolso, perde tempo e tem muitas contrariedades, mas eu acho que é minha sina”, diz ela.
Pelas coincidências do destino, foi nesta associação rural que o Ponto de Cultura começou o trabalho de parceria envolvendo outras entidades do meio popular. É para cumprir a meta dos Pontos de Cultura: ouvir quem nunca foi ouvido, e trabalhar em comunhão a partir dos pontos de vista e das necessidades do povo.
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