Água x Coca Cola

Pois bem, você deve estar se perguntando o que diabos esse título significa, certo? Antes, porém, que você possa sequer cogitar que este seja um texto "natureba", já lhe deixo bem claro: o título é meramente uma metáfora. Uma analogia, modéstia a parte, brilhante acerca de amizades virtuais. Sim, amizades virtuais.

E agora, você se pergunta: mas o que raios uma coisa tem a ver com a outra. E eu lhe digo: aguarde e confie.

Dia desses, num almoço de família, minha mãe nos brindou com a novidade de que uma prima havia começado a namorar. Poderia ser uma coisa bastante comum, não fosse o fato de a dita prima já estar há, não sei, talvez uns vinte e cinco anos solteira. Mas essa não foi a parte estarrecedora da notícia. O que realmente nos chocou foi o fato de o namoro da garota em questão ter começado pela Internet.

E foi aí que a discussão começou: meu pai, antiquado como ele só, defendia que era impossível que duas pessoas namorassem pela Internet. Segundo ele, quando você se relaciona virtualmente com alguém, você nunca terá certeza de que a pessoa é realmente quem diz ser. Neste ponto, meu irmão mais velho e eu entramos na jogada, dizendo que você não namora pela Internet. Na verdade, as pessoas só se conhecem pela Internet. E então meu pai usou o argumento que, imagino, milhares de pessoas ainda adotam quando em uma dessas discussões: "Quem se relaciona na Internet são as pessoas que tem medo de se relacionarem no mundo 'real'."

Bem, a discussão lá em casa ainda se estendeu por mais algumas horas e latas de cerveja (refrigerante, no meu caso), mas esta questão não saiu da minha cabeça: Será que nós (e eu digo "nós" pois me enquadro nesta parcela da população) vamos para o mundo virtual por ter medo do real? Talvez sim, se você considerar que na Internet, é possível se cobrir com o manto do anonimato e se falar o que bem entende, sem medo de parecer idiota. Outra característica atraente do mundo virtual é que nele você não precisa se preocupar com a imagem. Não há a necessidade de se ter uma boa aparência para que se possa causar uma boa impressão. É um quesito a menos com o qual se preocupar, e isso é sedutor para uma pessoa com baixa auto-estima. Teoricamente falando, na Internet é mais difícil ser rejeitado. Claro, isso é só teoria, mas enfim...

Mas então, o que realmente me fez pensar foi o seguinte: é possível manter uma amizade pela Internet? Uma amizade que comece e se mantenha apenas no campo virtual. E mais ainda: uma amizade puramente virtual consegue saciar todas as necessidades "sociais" de uma pessoa?

Pois foi a resposta para essa pergunta que me veio ontem, como uma epifania. Estava eu observando o marasmo do meu "Twitter", que já não era atualizado havia algumas horas, quando me veio o grande entendimento: de que me adiantam todas essas redes sociais se eu não me sociabilizo?

Ter Orkut, Twitter, MSN e outras mazelas do gênero não irá mudar o fato de que você precisa de amigos com quem se relacionar. Mas daí você justifica: "ah, mas eu posso conhecer gente nova através desses sites/programas". Verdade, mas ainda assim, o forte da amizade se dá pelo contato físico. Não precisa nem ser literal, mas simplesmente estar junto. Existe toda uma espontaneidade quando se está em contato com alguém que, através de um computador é impossível transmitir (com exceções, é claro). No fim das contas, você pode até tentar ignorar o mundo real e se relacionar só pela Internet, mas isso não irá suprimir as suas necessidades de se sociabilizar. E aqui vem a grande sacada do título. Tentar saciar a sua carência afetiva com um monte de amigos virtuais é como tentar matar a sede bebendo Coca Cola: pode até parecer muito bom, mas no fundo você sabe que a sua garganta só está ficando mais seca.

No fim das contas, certas coisas nunca mudam. Para a pior carência, só calor humano, assim como para a pior sede, só água.