Virava outro no micro
Ferindo cada luminescência com precisão; fazia cretinices do tipo visitar o horóscopo de uma página estrangeira sem acreditar em alguém vivendo guiado pelos astros. Por ideal para se tornar verossímil. Estava começando a gostar de ilusionismo e magia. Era um bruxo que se dedicava a web mesmo analfabeto em horóscopo clix. Adrenalina agitando as veias silenciosas da noite no quarto entre o pijama e os desejos. Ninguém em casa.
Virando a página havia algo sobre a conferência. Desmarcada. Razão: pane completo da Secretaria Executiva. Há de tudo na web, uma beleza. O mercado do povão.
Recordaria para sempre aquele sublime dia quando desembarcou o lindo micro na calçada da casa 149. Morada dos Alcântara. Como é de fato os visinhos estavam olhando como girafas lembram antenas de reprodução. A caixa dizia: “computador” em letras escarlates. Os vizinhos chegaram a pensar em estoque de seringas da Cruz Vermelha com escala, pois uma das criaturas do casarão era enfermeira da Santa Casa de Misericórdia.
Pode o narrador ser fútil, mas a crônica jamais. Essa máquina que ninguém sabe bem para o que serve, e a que vêm cheias de subsistemas de sistemas dos sistemas, não pode alcançar picos altos de popularidade. Reflitamos bem: Popularidade nem impopularidade. Os entregadores ao serem indagados sobre o que estavam entregando continuam internados num ambiente fechado em busca de sanidade mental. Jamais poderiam imaginar a vida no paraíso dos botões ilimitados e conexões.
Entregava-se por inteiro a mania. Craque em navegar para todos os lados e cada vez mais para dentro da máquina hipnótica repleta visualidade. Mal colocava os pés no chão do quarto e já se sentia “carregando” como uma página de alta velocidade, porém lenta.
Abandonou pela metade o curso de clarividência. Preferia a computação, diante do computador era fera, colosso, gigante Caraculiambro.
Conseguia sozinho em casa, sempre sozinho, curtir o maior carnaval da sua vida pela web. Insuportavelmente descontrolado de efervescências e luminescências.