Manhã marítima.
no fim de tudo...um começo se faz,
quem sabe reviva, quem sabe renasça...
quem sabe até morra de novo.
Então você fica ali encarando o mar sentado na areia molhada,
escutando as ondas, seguindo o movimento com os olhos.
Sol forte e quente na cara e no corpo,
vento constante e frio vindo da agua e das ondas.
Aquele cheiro não se compara a nada, o cheiro da calma...
sua mente se esvazia, o seu corpo se contorsse, delicadamente...
tão suavemente que é capaz de você nem sentir esse movimento,
mas é dessa forma: de uma onda nova nasce e outra logo atrás
a engole, a consome, ou se une a ela ficando cada vez maior,
cada vez mais bela, forte, alta... destrutiva, avassaladora, mortal.
Então os olhos correm pela praia, está sozinho...
só um barquinho azul e vermelho com a tinta lascada pela maresia
umas dunas de areia e espulma do mar...
acho que ouvi dizer, em algum lugar, que a espulma do mar foi uma mulher sacrificada,
se jogou ao mar por uma desilusão amoroza... pequena sereia.
O sol parece ter vergonha de aparecer, não se deixa ser olhado, é tanto brilho,
é tanto brilho, que não se pode exergar.
Eu sou assim apagado, mas ao menos podem me ver.
Você querer ofuscar tanto que dói te olhar, isso não é tão bom quanto soa parecer.
As ondas do mar jogam o sal, despedaçam pelo céu como um grande espirro,
o cheiro do salino do mar invade as narinas,
o som alto do marulho enssurdece os ouvidos, mas quem disse que é ruim, quando não se quer escutar nada?
Raspa as mãos na areia e se assusta com uma onda limpando o desendo os dedos esfregado no chão praiano,
a agua fria molha a mão...
e o resto do corpo sentado... nada é muito simples, tudo é repleto de tudo, nada pode ser dito presivivel, ou comum ou sem graça. Qualquer coisa tem sua beleza a ser vista, mas tem de ser vista com calma,
tem de ser olhada devagarzinho, tem de ir percebendo enquanto o mar recolhe a onda molhadora dos dedos devolta para seu leito com um chiado.
Mas simplesmente o mundo não lhe deixa continuar a prestar atenção nos detalhes em volta, está preso ao tempo. Mas já ganhou o bastante, por enquanto, descobrindo um pedaço do mundo em que vive.
Apoia a palma das mãos na areia úmida e da impulso para levantar, faz forças com as pernas e fica de pé.
Da uma última olhada para o céu azul magnífico, para as nuvens brancas que vagam com calma extraterrena, para a corda do horizonte separando o azul do azul,
para o balé das ondas, para o bordado das espulmas, como cambraias flutuando molhadas. Para o mar...
respira fundo, mira toda beira-mar a sua frente e sai seguindo sentindo a areia nos pés,
caminhando pela praia...