O Mar
Os segredos do mar
Arrebatadora é a sensação de olhar e sentir o mar nos envolvendo em sua vastidão profunda e misteriosa, despertando em nosso inconsciente imagens enevoadas da criação do sopro da vida nos oceanos primitivos. O movimento cadenciado e sinuoso das ondas segue sempre rumo aos rochedos, que formam a barreira que possa obstar a sua irresistível expansão à procura de novos espaços.
É majestoso, atemorizante e detentor de forças titânicas que constantemente moldam novos litorais, delineando surpreendentes confins. Alberga, ainda, incomensurável abundância de vida nas várias camadas de profundidade que detém, e a fragrância forte que exala e o bramir das vagas marcam a presença imponente da massa líquida que envolve o planeta, intervindo decisivamente nas condições climáticas que permitem a sustentação da vida em suas diversificadas combinações.
Ele faz parte da biosfera, sendo detentor de recursos energéticos, alimentares e minerais, a maioria renováveis, e nele subsistem as nossas esperanças e temores, todas condicionadas às mudanças bruscas de humor que apresenta constantemente, ao operar com energia incontrolável num único e decisivo instante, provocando estigmas profundos na frágil arrogância daquele que se arvora pertencer à espécie dominante.
Por ser um elemento indomável, serve e escraviza, dá e tira a vida, é plácido, tormentoso e exibe formosura mutante aos olhos obsequiosos dos que o temem e apreciam, adotando comportamentos controversos e imprevisíveis. Uma forma continental que delimita à revelia do próprio homem as fronteiras por ele criadas, submetendo-as aos caprichos das dimensões e segredos dos seus abismos sem fim.
E o ser humano, vassalo ante a sua magnificência, deixa-se atrair, como Ulisses, pelo canto das sereias e fixa suas raízes perigosamente próximas à arrebentação, colocando-se a mercê dos caprichos dessa massa fluida em conflitantes sentimentos de prazer e audácia, sujeitando-se aos seus humores imprevisíveis no lapso de tempo que a própria inconstância lhe permita.
A fascinação que nos move temerariamente perto de seus domínios, talvez encontre respostas no começo da concepção da vida, quando ainda éramos moléculas unicelulares no vasto oceano inicial, permitindo que este registro primordial permanecesse manifesto em nosso ser e nos levasse com ele a interagir à busca de uma pacífica coexistência.
Sua presença enche nossos olhos com a beleza indescritível de cores e movimentos, fazendo que permaneçamos desbravadores dos seus segredos e, ao mesmo tempo, peregrinos à procura de respostas sobre as nossas verdadeiras origens.