O Dia da Sogra


– Até que enfim!
– Que foi, Elísio?
– Dia 28 de abril, dia da sogra!!
– Ué? Gostou?
– Claro! Nada mais justo! Já tem dia de combate ao câncer, ao fumo, à AIDS...
– Acorda, homem! Não é dia contra a sogra! É dia da sogra!!
– É homenagem??
– É!
– E quem foi o marido de órfã que inventou isso?
– Sei lá!
– Deve ser jogada de marketing das agências de turismo. Já imagino a promoção: pacote especial de dia das sogras! Mande a sua para o Iraque!
– Você mandaria sua sogra pro Iraque, Elísio?
– Não...
– Ah, bom!
– Não tenho grana pras passagens.
– Elísio!!
– Mas, se tiver um pacote alternativo de night-city-tour pela Rocinha...
– Puxa, amor! Ela é minha mãe!
– Ô, Zuleica! Não leva para o lado pessoal! Não estou falando da SUA mãe! Estou falando da MINHA sogra!
– E não é a mesma coisa?
– Não! Há todo um processo histórico na relação genro e sogra. Odiar a sogra é, “tipo assim”, um instinto atávico!
– Sei...
– Sabe o que é instinto atávico, Zuleica?
– Claro que sei. É o que faz os cachorros darem três voltas antes de deitar e a sua mãe meter o bedelho onde não é chamada.
– Minha mãe? Quando?
– Quer a lista por e-mail? Esvazia a caixa postal primeiro!
– Exagero seu, Zuleica!
– Exagero? Ela já reclamou que eu não sei cozinhar, que eu não sei cuidar dos meninos... Ela já me chamou de gorda!
– Que isso!? Ela só estava preocupada com a sua saúde...
– É! E se acabou de elogiar a sua ex...
– Era boa mesmo...
– Elísio!!
– A saúde dela! A saúde!!!
– Nessas horas, morro de inveja da minha tia freira...
– Por quê?
– Ela é da ordem das esposas de Cristo!
– Ah, sim! Sua sogra ia ser uma santa...
– E o marido, morto!
– Credo, Zuleica!
– Você mereceu!
– Tá bom, tá bom. Mas, uma coisa é certa! Eu não posso falar nada da minha sogra.
– Não pode mesmo! Ela nos recebeu de braços abertos aqui na casa dela enquanto o apartamento não fica pronto...
– Isso! Ela está sempre ao meu lado!
– Hum, amor! Que bonit...
– Ouve bem para caramba e atira melhor ainda!
– Droga, Elísio! Você não leva nada a sério!!
– E agora? Vamos ter que comprar presente?
– Acho bom, né?
– O que eu compro para a sua?
– Ah! Acho que flor tá bom...
– Opa! Vou agora mesmo procurar por plantas carnívoras na Internet!
– Elísio!!
– É! Tem razão... Melhor não! As coitadinhas não iam dar conta de digerir aquele osso... Comigo-ninguém-pode, então?
– Compra umas rosas, Elísio!
– Tá! Coisa mais sem graça... E o que você vai dar para a minha?
– Não sei. Mas aquelas passagens não me saem da cabeça...
– Zuleica!!


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Texto escrito para o 6° Desafio Literário da Câmara dos Deputados - Etapa 3.
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O tema eram as sogras difíceis, chatas e tal. Não deu para escapar, mesmo sabendo que há sogras maravilhosas, pessoas adoráveis que praticamente nos adotam quando nos casamos com seus filhos. A minha é uma delas.