FELIZ DIA DAS CRIANÇAS

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Dia das crianças. O que me faz lembrar de minha infância? Tanta coisa... E eu poderia falar uma de cada vez. Ou de todas ao mesmo tempo. Mas não. Hoje, lembrei-me de meu avô...

Não sei o motivo. Somente me lembrei. E me lembrei de que meu avô me ensinou, desde pequenininha, a chamá-lo de pai. Por isso, cresci sem nunca ter tido alguém para chamar de avô... Isso não chegava a ser um problema para mim, até porque jamais havia parado para pensar a respeito... Mas quando eu tinha por volta dos nove anos, sabe-se lá por que razão, um dia decidi chamá-lo de “vô”...

Era um dia de festa em minha casa, um daqueles inúmeros churrascos tradicionais de domingo, nas casas do sul - cheias de primos, tios... E no meio da gritaria da primaiada em volta dele, pedindo-lhe dinheiro para comprar sorvete, eu o chamei: “vô”...

Ele não me ouviu. E eu repeti, toda lampeira: “vôooooooo!!!!!!!!!!!”... Meu avô parou, no meio de todos os primos, olhou-me diretamente nos olhos, e disse:

_ Você não.

Meus primos nem escutaram. Estavam mais preocupados com o sorveteiro que gritava do outro lado da rua... Cada um pegava o dinheiro das mãos do avô e saía correndo...

Mas eu o escutei. E permaneci parada. Olhando para ele. Sem entender... E ele também parado. Com a nota nas mãos, completou:

_ Pra você eu sou “pai”.

E me estendeu o dinheiro.

Foi a primeira e última vez que me dirigi a ele desta maneira.

Anos depois, na cama do hospital, na última noite de sua vida, meu avô me observava... Alguns primos e tios em volta... E eu ali, também ao seu lado...

Ele me olhou por alguns segundos e, com dificuldade, disse:

_ Eu sou seu avô.

As pessoas presentes à cena, talvez nem tivessem ouvido ou entendido o que ali se passara. Mas eu ouvi. Teria meu avô se lembrado do fato passado? Teria guardado aquilo a vida toda?? Ou, ainda, teria achado que me roubara algo (como o direito de ter um avô?)... ?

Por que aquilo, naquele momento?

Não tive tempo de saber a resposta.

Mas, do alto de meu silêncio, interpretei a dificuldade nas palavras dele não por causa de seu estado físico... E sim, pelo medo de não ter tempo de me dizer algo que ele achava necessário e urgente... Talvez, como sempre foi de seu feitio, preocupado com o fato de que, em minha vida, não ficasse faltando nenhum item (até mesmo um avô)...

Não precisava.

Pena eu não lhe ter dito lá atrás, na infância, que nunca senti falta de nada. E que ele não me roubou o direito de ter um avô... Possibilitou-me o direito de ter um pai... (como toda criança deve ter)...

E é isso o que hoje me faz lembrar dele... No enlevo desta data - dia das crianças – o meu desejo é que toda criança possa ter um pai como eu tive. E que a sua infância seja tão linda, tão poética, tão cheia de amor como a minha...

Obrigada, pai, pelos dias de minha infância.

Felizes. E completos.

Te amo.

É isso.

(Adriana Luz – 12 de outubro de 2010)

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