Corrida de pernas de pau
Obs. Nosso Lar (em Limeira SP) é o orfanato onde eu cresci.
Final dos anos 60, no Nosso Lar, com cerca de 100 (cem) meninos, as brincadeiras eram as mais variadas possíveis. Cada um fazia o seu próprio brinquedo e ninguém queria ficar pra trás. A tentativa era sempre fazer sua “engenhosidade” melhor do que as dos outros colegas. E não bastava fazer melhor e mais bonito, tinha que ser brinquedo de “MACHO”. Naquele tempo, menino que queria jogar peteca, queimada ou brincar de roda era visto com o canto dos olhos. Coisas dos garotos daquela época.
Uma das formas de driblar os preconceitos era inventar coisas complicadas ou então partir para as perigosas. Entre os brinquedos mais badalados pelos meninos estava a perna de pau. Mas não era uma perna de pau qualquer. Pra ser bom e respeitado pelos colegas, o jeito era fazer uma bem alta e depois de feita, tinha que apostar corrida com os demais. Madeira havia de sobra, bastava pular (escondido) e “pegar” ao lado do fogão à lenha. Prego, nós tirávamos da própria madeira e o martelo era um pedaço de tijolo.
Das dezenas de internos, sempre tem aquela meia dúzia que fica marcada. Tínhamos também um grupo de seis “prodígios” e chegamos a competir com pernas de pau de quase dois metros de altura. Considerando que a idade média era de nove anos, a aventura foi de gente grande. Foi um tempo muito bom. Apesar dos perigos e das centenas de tombos, ninguém se machucou. O máximo foram alguns arranhões seguidos da velha frase: “homem não chora”. E alguém que resmungava: “não chorou de vergonha”. Se chorasse... Era Mariquinha.
Apesar de minha infância ter sido em um orfanato, longe de pai e de mãe, foi uma infância muito feliz.