Matinais

Navego em asas Ícaras, que roçam a mesa de trabalho, compostas de rascunhos do meu dia, onde respingo de ondas alvas são mais que a caneca apoiada na mesa. Vejo blocos de recados e íntimas lembranças de quando apenas isso era distante.

Remonto as mesmas ínfimas, destino na utopia, de um crescer acelerado que o tempo mantinha. E a criança olha o homem e sorri, e apenas o anseio que o tempo conservou e deu o nome de esperança batendo a porta.

E diria para descansar na mesa o barco a vela, buscar a nau que a realidade embala e seguir perto na esperança! Traçar no chão o risco mágico, de gudes coloridas ou se apoiar nas linhas que levariam ao sonho no embalo mágico e inquieto do vento norte.

Apague as luzes por um instante e tire da gaveta esquecida a lembrança distante. Afinal, ainda há, dentro do adulto enrustido, aquela que ainda sorri de palhaços coloridos ou das brincadeiras inocentes. E chamaríamos esses anjos que ainda existem, travestidos de lembrança, na alma inacabada, apenas crianças.