DOR SEM NOME
_____________________
Jamais nesta vida e, possivelmente, na outra, me cansarei de louvar o poeta Gonçalves Dias. De poesia genuinamente brasileira, foi ele o nosso primeiro e jamais excedido poeta. Digo jamais excedido porque falo de um poeta comum e não de um ser especial de uma personalidade fora do comum. De um poeta falando a linguagem do homem comum e escrevendo sobre uma realidade comum a todos; e não sobre uma realidade ou irrealidade tão extraordinária que somente o “ser iluminado” teria acesso.
Não é novidade nenhuma, mas não lhe custará nada rememorar que quando Gonçalves Dias viajou para Portugal, acompanhava-lhe seu pai. O poeta buscava instrução e seu pai a saúde. Pouco depois de ali terem chegado, morreu-lhe o pai, que já saíra do Brasil muito doente. Com quatorze anos, achou-se Gonçalves Dias só, em terra estranha. Esta circunstância, agravada pela distância da pátria e da mãe, aumentou-lhe a natural dor da perda do pai. No belíssimo poema autobiográfico “Saudades”, que dedicou à irmã, do qual transcrevo um fragmento, podemos ter uma idéia dessa dor que não tem nome:
De quando sobre as bordas de um sepulcro
Anseia um filho, e nas feições queridas
Dum pai, dum conselheiro, dum amigo
O selo eterno vai gravando a morte!
Escutei suas últimas palavras,
Repassado de dor! — Junto ao seu leito,
De joelhos, em lágrimas banhado
Recebi os seus últimos suspiros.
E a luz funérea e triste que lançaram
Seus olhos turvos, ao partir da vida
De pálido clarão cobriu meu rosto
No meu amargo pranto refletido
O cansado porvir¹ que me aguardava! ®Sérgio.
Leia Também: (clique no link)
___________________________________________
1 - o tempo que está por vir, por acontecer; futuro.
Se você encontrar erros (inclusive de português), relate-me.
Agradeço a leitura do texto e, antecipadamente, qualquer comentário. Volte Sempre!