PRIMEIRA PERSPECTIVA SOBRE DOR E AMOR
Quando perdemos alguém de imenso valor para nós é que começamos a ter noção do quanto a distância de quem nos era caro nos causa tanto desamparo. É necessário o dia-a-dia da saudade para alimentarmos a realidade incontestável do que realmente nos machuca. Quando se descobre amar depois da separação de um casamento ou do término de um namoro já pode ser muito tarde para re-colar os cacos espalhados pelo chão.
Lutar depois de tantos fracassos, depois de tantos embates que se tornaram em vão é só mais um desperdício de tempo, energia e disposição. Mas por fazer falta relembrar a pessoa amada, quando a separação é recente, é, ainda, muito espontâneo e muito natural. Automático, posso dizer. Por isso esquecer se torna doloroso e difícil. Esquecer... termo difícil de ser aplicado no cotidiano e quando finalmente se é aplicado o que se torna difícil é mantê-lo em constante rotação e translação no coração, na alma e na mente. É uma tarefa árdua, porém nem mesmo Deus ressaltou que é impossível, a não ser que seja impossível como que uma certeza absoluta no pensar, no sentir e no agir de quem, de fato, precisa e se dispõe a esquecer.
É um caminho de paciência, sobretudo, de paciência consigo mesmo, caminho de tempo, para cicatrizar as feridas, para reacreditar no valor e na essência do amor e da felicidade; um caminho de auto-tolerância em que se definem novos modos de se viver e de se acreditar para ter uma vida melhor, serena, calma e tranqüila. Não, não é impossível. Só o é para quem realmente deseja que assim seja. É verdade que uma pessoa que muito se ama acaba se tornando um pedaço de nós como o são nossas pernas, por exemplo. E quando esse pedaço nos é arrancado inevitavelmente nos resta uma dor arrasadora, desmedida, incabível em nosso pequenino coração. Sim, nessas horas nosso coração se apequena perante tanto sofrimento e diante de tanta mágoa. Mesmo que seja uma dor avisada sempre sentimos que não esperávamos por ela.
É nesse caminho do aviso e do sentir que se espera que a dor vem e se instala em nossos corações como um ácido que tudo corrói e destrói por onde passa. É também como uma chaga que vai se alastrando rapidamente pelo corpo. Sentimo-nos fechados, tristes, deprimidos e até apáticos. O nosso mundo e o mundo lá fora se tornam, a partir desse instante, mundos completamente distintos. É aí que começa um processo de elaboração da dor, de conhecimento do sofrimento e de aprendizado. Se eu não estiver errado, é a esse momento (curto ou longo, dependendo do caso) de corrosão, destruição, tristeza, apatia, depressão, dor e sofrimento que se chama luto. Por sinal com esta palavra podemos até fazer uma paráfrase ou, então, uma metáfora. Se esse período se chama de luto podemos levar em consideração que essa sensação nos fala em primeira pessoa por nós mesmos no levando a lutar, a batalhar pela nossa recuperação.
Uma frase que pode muito bem representar o que se acaba de dizer é: “Eu luto no luto”. Se luta no luto para se regenerar, para se recuperar, para continuar na vida já que ela não pára por nenhuma dor nem por nenhum sofrimento. A luta no e do luto é fundamental para o sucesso do ensino-aprendizado pós-luto. É como dizem, a dor não mata, nos ensina a viver. E é verdade. Nenhum de nós, quem quer que seja, está imune à dor, seja ela qual for. Estamos sempre à mercê da dor, ela está sempre à nossa espreita. Sempre. Quem diz o contrário está vivendo em uma grande utopia. E podem acreditar, essa utopia custa muito caro pois ela se agarra à crença de que a vida sem dor traz o verdadeiro aprendizado pelo fato de que a dor só tem o fim de causar sensações ruins. Não estou negando que, realmente, ela (a dor) cause sensações ruins, entretanto, ela é transcendental, impassível de explicações e conceitualizações mais específicas e detalhadas. Aliás, como todo e qualquer sentimento e como toda e qualquer emoção. É aquela questão: ou você vence o período de luto e se renova ou, então, o luto lhe carnificina e acaba por te corroer até definhar.
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