Texto para o dia de uma afirmativa perfeita
Alexandre Menezes
Não é que haja algo de novo. Certo é que o arrepio causado ao corpo foi por ouvi-la dizer que adorava ser vagabunda. Por mais que a educação e o espanto pedissem para pensar de outro jeito, a mente, brincante e cheia de dedos, fazia-me no folguedo o mestre dos tapas na bunda.
Ao tentar dormir, uma alegoria figurada rodeava os ouvidos. Retidas vezes, a mesma frase, transformava a perda do sono em castigo. Conviver com projetadas cenas mentais vermelhas e difíceis de contar era punk. Imaginava e, sem o menor desejo de ser racional, seguia.
E então a noite vagava na sua brincadeira eufórica. Criava personagens tortos para viver o conflito da promessa de um segredo e a vontade de fazer fofoca. Não se sabe se um desejo de apenas dizer tornou-se audível ou então que algo além do bem mais que possível fosse. É provável que o instante exato não existiu.
A noite passou e nela ficou o registro de retratos na memória. O sorriso bobo, instalado na face, emoldurava a história com qualquer imagem que pedisse. De fato poderia fazê-la rainha, freira, professorinha: poderia tudo, afinal, para sonhar, ajuda e aceitação não são necessárias.
Guardadas como verdades, ficaram inexistentes súplicas que, quando na mente realizadas, deixavam de ser mudas. Exausta, representava com uma única afirmativa que, para sua noite, parecia ser a mais justa. Encarregava-me de interpretar o que para ela fora. Somente precisava ouvi-la dizer que “adorava ser vagabunda”. Que a realidade enfim chegue.
Alexandre Menezes
Não é que haja algo de novo. Certo é que o arrepio causado ao corpo foi por ouvi-la dizer que adorava ser vagabunda. Por mais que a educação e o espanto pedissem para pensar de outro jeito, a mente, brincante e cheia de dedos, fazia-me no folguedo o mestre dos tapas na bunda.
Ao tentar dormir, uma alegoria figurada rodeava os ouvidos. Retidas vezes, a mesma frase, transformava a perda do sono em castigo. Conviver com projetadas cenas mentais vermelhas e difíceis de contar era punk. Imaginava e, sem o menor desejo de ser racional, seguia.
E então a noite vagava na sua brincadeira eufórica. Criava personagens tortos para viver o conflito da promessa de um segredo e a vontade de fazer fofoca. Não se sabe se um desejo de apenas dizer tornou-se audível ou então que algo além do bem mais que possível fosse. É provável que o instante exato não existiu.
A noite passou e nela ficou o registro de retratos na memória. O sorriso bobo, instalado na face, emoldurava a história com qualquer imagem que pedisse. De fato poderia fazê-la rainha, freira, professorinha: poderia tudo, afinal, para sonhar, ajuda e aceitação não são necessárias.
Guardadas como verdades, ficaram inexistentes súplicas que, quando na mente realizadas, deixavam de ser mudas. Exausta, representava com uma única afirmativa que, para sua noite, parecia ser a mais justa. Encarregava-me de interpretar o que para ela fora. Somente precisava ouvi-la dizer que “adorava ser vagabunda”. Que a realidade enfim chegue.