Instrumentos pendurados na parede!

O cavaquinho com aquele som moleque,

O bandolim sempre meio desafinado pelas cordas duplas,

O violino esbelto e metido a besta...

O violão bonachão, achando-se o mais importante deles...

Todos estão pendurados na parede,

Agora não há um mais importante que o outro..

Os vejo de minha cadeira dura,

Acalentando-os com os olhos

Como se uma canção estivesse

Silenciosamente solfejando...

Triste mesmo, sem ânimo para restaurar-lhes o som...

Sem tino e criatividade para o desânimo ultrapassar..

E, ainda empoeirados, no colo repousar para uma nota,

Uma nota, somente, soar...

Outrora sonoros, austeros e salientes,

Calados e mudos, insignificantes tornaram-se.

Refletem, agora, a sisudez de minha vida oca.

Nem pro trabalho rotineiro tenho alento

Desatento cumpro o tempo incólume e indiferente

Prá no final do mês apossar-me desonestamente

Do salário mal pago e muito chorado.

Prá onde foi aquele jovem honesto e atento?

Que agora já avistando o final desta lida

Parece encostado no poste do desalento

A esperar o bonde do tempo passar

E a sua alma para o além transportar.

Os amores se foram sem nunca terem existido.

A vaidade e autoestima, próprias dos jovens,

Agora tornaram-se em piadas nas lembranças debochadas.

Até o último amigo, por quem sacrifiquei o pudor

Também se foi, injustamente achando-se traído.

É , talvez a vida me tenha traído mesmo

Bem feito que seja! Prá que ainda insistir em viver?

Dou uma banana para a ridícula felicidade

Que sempre fingiu me avizinhar,

Apenas para de mim debochar...

Que se vá mesmo, também esta insossa felicidade!

Que se vá para o lados dos bacanas mauricinhos.

Que para mim, esconder-se da subnutrição nunca logrei

Esta felicidade opaca não serve.

Que venha o esquife para transportar-me logo

Para os braços do destino ridículo e reservado

Aos homens desatentos e incapazes, como eu.

Gargalhadas de louco ouço ecoarem dentro de mim...

Não estou sorrindo, estou gargalhando para o

Destino soberbo que nao me aceitou em seu clube...

Vou sim, para o além sem as conquistas nunca alcançadas...

A minha lembraça volta, mais uma vez, para os

Instrumentos pendurados na parece manchada...

Agora parece que eles apresentam-se para mim

Como uma última despedida de seu outrora

Sonhador, que agora, em estorvo transformou-se.

Bye, bye talento.. que se vá também..

Prá nada agora serves, a não ser como

Lembrança e cobrança dos amigos que

Nunca me conheceram de verdade...

Devaneio em minha loucura, um último adeus

Mas, olho para os lados, e ninguém vejo.

Os filhos cresceram e foram-se para os seus...

A Nicole, cadelinha fiel, morreu, isso já tem tempo!

Fito a minha perna desnuda. Ah sim, ela é bela

Ainda parece mostrar alguma resistência

Ao cortejo fúnebre que aproxima-se...

Ensaia fugir, correr, zarpar...

Mas nenhum músculo move-se...

Percebo que o meu corpo também está inerte

Não o sinto mais. Os olhos serrados parecem

Untados com óleo pesado para manterem-se fechados.

Ainda noto alguns arrastos de pés em torno

De meu corpo estendido... Estou morto.

Vou derrotado para o além... Amém