A BRUXA DO CONDOMÍNIO
Contrabandeando do Paraguai para vender na cidade, muamba Made In China, o “empresário” bom-despachense conhecido pelo apelido de Casca de Ferida, ficou rico! A partir daí a estória pareceria com um destes horríveis filmes de mafiosos, em preto-e-branco, reprisados na TV e que a gente assiste às madrugadas, quando se perde o sono, não tivesse o pústula presenteado sua odiosa mãezinha com um apartamento, em residencial no centro de Bom Despacho.
Todo morador de condomínio tem seu caso de vizinho encrenqueiro, pra contar. Revendo o peixe pelo preço que comprei. Um sujeito desabafou amargurado: “Qualquer hora, mando a Bruxa se acertar com Satanás!” O grande problema é que a Danação deu no cerne. “Essa, nem câncer não mata!” Diagnosticou a faxineira, completando: “Se bobear, enterra todo mundo do prédio!” A noite inteira é um tormento trançando dos quartos para a cozinha, como assombração, fazendo sabe-se lá o quê. E deixando cair vasilhas de alumínio no piso de cerâmica a Mocreia provoca tamanha barulheira, que nem o porteiro consegue tirar um cochilo, de madrugada!
“Tá mais pra alma penada!” Ouvi do curioso que ao desvendar tais mistérios, apurou que a trabuzana se deve aos coquetéis... não de frutas, mas de remédios, que a Megera toma para evitar doenças; e pra lá de Marraqueche - piradona - troca os horários. Maior transtorno só quando a Ave de Mau Agouro, antes moradora numa chácara finge não ter ideia do que seja a vida em condomínio, com iguais direitos e deveres, e pirracenta, empoleirada na cobertura trata os demais moradores como subalternos. Após reclamações dos vizinhos, o síndico notificou ao Casca de Ferida. Bem no seu estilo, prepotente, ele ranhetou: “Mamãe está idosa e não pode ser contrariada.” Outra inquilina, também velha, esbravejou: “Ele fala assim, porque não tem que aturar os desaforos da Coruja!” Um morador, policial reformado, pegou pesado: “Os jornais estão cheios de notícias com malucos jogando crianças pelas janelas dos apartamentos; precisa um mudar para cá e despejar a Coroca!”.
Pelos banhos intermináveis, torneira da pia escorrendo, máquina de lavar roupa ligada todo dia, o dedão pressionando a descarga da privada cinco minutos de cada vez... a Múmia foi chamada à realidade: afinal água é um bem esgotável e custa caro. Atrevida, ela resmungou: “A água do mundo é a mesma, desde Adão e Eva!” Mas na hora ouviu: “É? Encarnação do Mal, só não te contaram que hoje são sete bilhões de humanos. Tomara que numa destas você tonteie, e caindo no vaso desça pela descarga com a merda. Cagona!” Um condômino aposentado confidenciou: “Rogo a Deus para que só me leve, depois desta Coisa. Pode me mandar pro inferno; mas antes quero ir ao cemitério e mijar na cova da infeliz”
Convencer a velhota de que elevador social não é condução adequada para bagulhos - saco de esterco, cacho de banana, galinha... que ela traz, é tempo perdido. Isto quando não trava sua porta na garagem, forçando todo mundo tomar a escada. Em manhã recente, alguém vendo o “encosto” sair para a chácara, rogou-lhe praga: “Tomara que uma cascavel morda seu calcanhar!” Ao que o jardineiro emendou: “Tadinha da cobra, sô. Vai morrer envenenada!” Pra mim, só o Osama pode resolver a questão - não o Barack, mas o Bin Laden - explodindo um avião contra o prédio, quando a Bruxa estiver dentro. Mas avisando aos demais condôminos, para que saiam antes!