CARÊNCIA
Marita estava viúva há três anos e desde então, sem nenhum carinho masculino. Estava carente. Vivia sonhando que estava sendo acariciada, beijada, possuída. Acordava molhada de suor e de excitação.
Sua amiga Marcia sempre lhe dizia que ela não arranjava um namorado porque era exigente demais.
Vou mudar - pensou. Preciso de um homem e isso é urgente. Vou seguir os conselhos de Marcia.
Quando conheceu Roberto, um fornecedor que havia sido convidado para a festa de fim de ano da companhia onde trabalhava, resolveu investir.
Ele era simpático, não bonito. Tudo bem não estava procurando um manequim.
Os dentes estavam um pouco amarelados pelo fumo, mas nem tudo é perfeito, ela não estava procurando um homem para anunciar dentifrício.
Não era muito alto, como ela preferia mas, afinal, existe tanto homem alto que não é de nada.
Estava um pouco gordinho, mas ela daria um jeito. Queimaria aquelas gordurinhas com muito exercício na cama.
Não tinha curso superior, mas afinal...Einstein não devia falar da teoria da relatividade quando estava na cama e Graham Bell não devia falar do medo que ele tinha de que uma TELERJ fosse criada para atrapalhar a sua invenção.
Não tinha uma voz maravilhosa, mas também ela não queria ninguém para ler as notícias no Jornal Nacional. Ele falava bem, conseguia dar a impressão de ser culto, embora não o fosse.
Marcaram um encontro para jantar no dia seguinte daquela festa. Ele escolheu um bom restaurante. Pediram a comida e ele escolheu vinho tinto para comer com peixe. Deve ser excêntrico - pensou Marita.
A conversa fluiu, mas ele falou enquanto mastigava.
- Pô, isso já está passando dos limites, mas deve ser a ansiedade do primeiro encontro a sós, tenho que desculpar. Afinal tô ou não tô carente?
Falaram de filmes. Ele gostava de bang-bang. Marita dos mais românticos ou históricos, mas afinal, gosto não se discute. Tem gente até que compra disco do Tiririca! Ela não disse que ia seguir os conselhos da amiga e ser menos exigente?
Na hora de pagar a conta ele discutiu com o garçon os preços altos. Marita resolveu ir retocar a maquiagem para se poupar desse vexame. Quando voltou ele já estava tomando o cafezinho sem esperá-la. Deve ser viciado em café, não aguentou me esperar. Isso não é nenhuma tragédia - disse consigo mesma.
Saíram caminhando - ele não tinha carro.
Deve ter algum trauma e não vai gastar milhões numa terapia Freudiana para saber o porquê de não gostar de dirigir. Sai mais barato e mais seguro andar de táxi nesse trânsito louco do Rio de Janeiro, filosofou.
- Vamos tomar um taxi, sugeriu ele, mas vou ser obrigado a pedir que você pague. Aquele restaurante me deixou desprevinido.
Marita teve vontade de mandar-lhe tomar.....um ônibus e ir para casa. Mas não se esqueçam de que ela estava muito carente, sonhando com um homem havia várias noites.
- Ok, disse ela. Vamos até a minha casa tomar um licor.
Os olhos dele - que era um pouco estrábico - brilharam.
Antes de irem para a cama ela tomou uma chuveirada e ele não.
- Bom, já não vou poder por em prática todas as coisas que sei fazer na cama, como eu pensei. Esse cara não tomou um banho, com todo esse calor. Já não gostei.
Ligou o ar condicionado do quarto. Se benzeu e partiu para luta.
Fizeram um amor que não foi lá essas coisas, mas era melhor do que quando fazia sozinha. Ele tinha um pênis meio torto, mas afinal o anzol também é torto e cumpre a sua função.
Quando acabaram ficaram deitados um ao lado do outro. Ela queria o “depois”.....mas não houve depois. Ele fumou um cigarro e levantou-se para ir ao banheiro, que era contíguo ao quarto.
Dentro do banheiro ele soltou um pum. Mas não foi um punzinho discreto, daqueles que se escondem num cantinho e saem correndo na primeira oportunidade. Nããããão. Foi um Puuuum com maiúscula, um punzão, um punzaço sonoro, com toda a escala musical. Só faltava uma orquestra para acompanhar o pum.
Marita vizualisou o maestro e todos os músicos da orquestra com seus instrumentos. O público do Municipal aplaudindo de pé e o pum se curvando para agradecer. Aquele era o pum do ano que saía assoviando. Eleito o mais sonoro, o mais musical, o mais corta tesão do ano.
Quando Roberto abriu a porta ela já estava com a roupa dele na mão.
- Adeus, Roberto, espero não vê-lo nunca mais.
- O que houve, mulher? Eu pensei que você quisesse que eu passasse a noite com você?
- Eu também pensei, Roberto, mas mudei de idéia. Tenho ouvidos muito sensíveis.
Ele olhou pra ela e pensou: como mulher muda de idéia com facilidade!!! E o pior é que essa ainda é maluca. O que é que tem ouvidos sensíveis a ver com sexo?
Marita virou de um lado para o outro sem poder dormir.
Levantou-se, tomou um café, olhou para a estátua de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro que estava sobre a mesinha.
- A senhora viu o vexame? O jeito e continuar com o Lilico, meu boneco inflável, trazido do Paraguai. Viva a indústria de plástico!!!