Meu pequeno urso branco
Quem adentra em meu quarto se perde em meio a tantos objetos, alguns velhos, outros quebrados, sujos, maltrapilhos e maltratados. Parte de minha história, essas coisinhas miúdas e graúdas que guardo comigo, pertencem à minha alma, confundem-se com meu passado e me remetem a reminiscências que não devo e nem posso esquecer.
Em minhas gavetas, cartões telefônicos já utilizados se misturam a fotos, cartas de entes queridos, agendas antigas e juras secretas de amor. Dentro de meus armários, sobre minha mesa de estudos, sob minha cama, em cada espaço preenchido de meu dormitório, esconde-se um pedaço do que fui, do que sou e do que vivo.
Mas não há nada que se compare ao meu pequeno urso branco. Embora com uma cor já acinzentada, um olhar mais cansado, uma orelha acidentalmente queimada, ele continua sendo meu maior confidente, meu mais fiel amigo, meu compreensivo pai, minha preocupada mãe, meu melhor amante, meu filho mais dedicado, meu anjo protetor.
Meu pequeno urso branco não se cansa de viver ao meu lado, ao contrário de muitos que se dizem cansados da minha presença. Não reclama, tampouco me magoa com palavras rudes e cruéis.
Nos momentos de grande tristeza e desesperança, seu olhar terno ainda me dá forças para sorrir. Ele guarda meus maiores segredos, minhas alegrias e frustrações. É, meu urso querido nunca me deixa na mão. Na saúde e na doença, lá está ele oferecendo seu ombro, que mal suporta o peso de minha cabeça.
Foi a ele que confidenciei a descoberta de meu primeiro amor. Tantas vezes dormi abraçada em seus braços com medo da escuridão da noite. E jamais esquecerei do infeliz dia em que, ao tentar acender pela primeira vez um fósforo, queimei sua orelha. Por milagre, meu urso se salvou.
Por tudo isso, meu pequeno urso branco, adoro-te como adoro a poucos. E sei que além de ti, não há companhia mais terna, nem amigo mais confiável. Ah, e me desculpe pela orelha queimada. Não tive intenção.