Alice sabe sonhar

"O que você faz?" uma pergunta simples, mas que mudaria a vida de Alice. Ao ser indagada, ela logo respondeu - achou a pergunta um tanto boba - "faço faculdade, sou estudante".

Contudo, ao cair da noite, quando todos dormiam uma voz não deixara Alice em paz , ela era familiar e ressoava palavras profundamente irritantes "O que você faz?". Alice estava a ponto de enlouquecer, que raiva do amigo que a interpelou daquela maneira. "Quem ele pensa que é?", repetia Alice a todo instante - Ela não assumia, mas não tolerava críticas, tampouco ser contrariada ou desafiada - Ora, era óbvio, ela era uma estudante, sempre fora, mais tarde teria um emprego estável, uma família e então seria uma mulher feliz! Será?

Foi então que Alice se deu conta do significado daquela pergunta, ela era muito mais profunda do que ela julgara, aquele amigo não queria saber o que ela fazia, mas quem era ela, o que a motivava, o que a fazia feliz. Alice nesse momento entendeu sua inquietude, afinal ela não sabia quem era, o que a motivava tampouco o que a fazia feliz; nunca havia feito nada, nunca havia amado nada.

De repente, um vazio que sempre esteve presente em sua vida de forma camuflada e oculta, crescia e tornava-se cada vez mais latente. Alice pensava: "Quando as luzes de minha vida se apagarem, em minha lápide estará escrito - 'Aqui jaz Alice, ela foi...'. e mais nada, pois nada havia para ser escrito".

Crescia também em Alice um desespero amedrontador, pelo tempo que perdera em sua vida e pelo futuro inexpressivo que a aguardava. Tudo a sua volta, o mundo perfeito e estável de outrora, de repente pareceu-lhe pálido e inerte.

Aquela sensação fora tão angustiante que Alice sentia-se sufocada, como se uma força vinda da leveza de seu vazio fosse insuportável, e lhe faltasse o ar. Pouco a pouco consumida por essa aflição, seus olhos ficaram pesados e sem ao menos sentir, caiu em um profundo sono.

Naquela mesma noite, algo extraordinário aconteceu: Alice sonhou! E ao amanhecer ela descobriu que podia sonhar de olhos fechados ou abertos.