Namoro no cinema
Depois de um longo período de tarefas acadêmicas feitas em conjunto, muita conversa e cafezinho, um colega de faculdade me convidou para ir ao cinema. Fiquei encantada com a novidade. Era tudo que eu desejava. A amizade já vinha progredindo havia algum tempo e já era hora de uma atividade extraclasse.
A escolha do local, hora e filme foi realizada democraticamente. Cuidei de não impor a minha vontade, temerosa de assustar o candidato. No dia combinado, lá estávamos nós. Tomamos um café expresso regado a gentilezas e entramos na sala. Iniciado o filme, dirigi minha atenção à tela e assim fiquei por algum tempo, até que resolvi olhar para o meu companheiro. Ele estava dormindo profundamente. Fiquei em pânico, decepcionada e sem saber o que fazer.
– Para que serve um homem que dorme no cinema?!
Nestas alturas da vida eu já não sonhava encontrar o príncipe encantado, aquele bonito, inteligente, romântico e, de preferência, rico, mas um namorado capaz de dormir no cinema não estava nos meus planos.
Pensei em acordá-lo com uma “leve” cotovelada, mas desisti. E se ele levasse um susto e desse um grito ou um pulo chamando a atenção de todos? Decidi deixá-lo dormindo, mas novas dúvidas me atormentaram: e se ele roncar, se abrir a boca e babar ou ficar se revirando na cadeira?
Depois de um tempo aturdida, sem saber o que fazer, tomei a minha decisão: levantei, pé ante pé, e deixei a sala. Simplesmente fui embora e deixei o dorminhoco lá sozinho. Só depois lembrei que ele estava de carona comigo. Até hoje não sei como foi embora.
Para minha surpresa, e a de todos, o relacionamento prosperou, passou para a categoria de namoro sério e durou cerca de três anos. Sobre o fracasso da nossa primeira saída juntos: nem uma palavra. Ao final do namoro, como sempre acontece nestes casos, ficou a lembrança de bons momentos e outros nem tanto. De melhor, dezenas de ótimos filmes que assistimos. Em casa, pois nunca mais ele se arriscou a levar-me ao cinema.
(Publicado no livro Salva-vidas Crônicas de oficina. Organizado por Fabrício Carpinejar Porto Alegre:Nova Prova;2009)